Um jovem, um tiro de fuzil e uma reflexão

Por José Paulo Barbosa

 

“A guerra é a continuação da política por outros meios” Clausewitz

 

Meu sobrinho Luiz de 21 anos foi assassinado no morro do José Menino em Santos. Ele era o filho mais velho da Cláudia, minha irmã.
Ele faleceu em consequência de um tiro de fuzil dado pela polícia e se não tivesse morrido, teria ficado paraplégico, pois a bala destruiu a medula.
Essa tragédia familiar e o luto pela perda de alguém tão jovem, traz-me lembranças dolorosas e reflexões que compartilho com vocês.
Eu nasci no mesmo lugar e tinha o mesmo ambiente social de pobreza e desagregação familiar.
Eu, como ele, fui discriminado pela minha condição social.
A diferença é que tive oportunidades e as aproveitei.
As oportunidades surgiram por ser branco (ele era pardo), por ter estudado (ele só fez o ensino fundamental), fui o primeiro da família a chegar à faculdade, meu pai era analfabeto e minha mãe estudou até o quarto ano do antigo “primário”.
Acho que cometi menos erros nas minhas decisões pessoais do que meu sobrinho, mas sem dúvidas, tive muito mais oportunidades!
A minha origem e a minha consciência de classe fez-me entender que é preciso mudar a sociedade.
Compreendi muito cedo que a atuação política é o único jeito de reduzir as desigualdades e aumentar as oportunidades.
Ter uma militância política é uma opção de vida e não um meio de vida.
Na quebrada (nas periferias), a vida não tem valor e mais uma vez, jovens morreram em uma “troca de tiros”, onde só um lado levou tiros e não foi preservado o local dos acontecimentos.
Por ironia do universo, nessa semana, o assassino que matou com facadas no coração a jovem atriz Daniela Perez, morreu de ataque cardíaco!
Espero que as mudanças políticas que virão, ataquem o coração das injustiças da nossa sociedade, a desigualdade e a falta de oportunidades.
Há um ditado popular que diz: “a diferença entre a guerra e a paz, é que na paz os filhos enterram seus pais e na guerra os pais enterram seus filhos”.
Ao ver minha irmã enterrando seu filho a conclusão é óbvia:
Estamos em guerra!
E nessa sociedade em guerra, se pudesse dar algum conselho aos jovens da classe trabalhadora e pobres, a partir da minha experiência, eu diria:
Lutemos por uma sociedade mais igualitária e com mais oportunidades! Tenham consciência de classe e valorizem suas origens. A ação coletiva e cooperada é poderosa!
Aproveitem as oportunidades e estudem, o conhecimento é uma das poucas armas que podemos usar, pacificamente, para romper o ciclo de injustiça, exclusão e pobreza.
Tomem decisões de auto-preservação e aprendam a dizer não, a tudo que for injusto, antiético ou fazer mal ao seu semelhante.
Sejam mestres do próprio destino!  Mudar o destino é a tarefa de todos nós!

Zé Paulo Barbosa

José Paulo Barbosa é professor, escritor e militante de causas sociais e ambientais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *