Lula e os ensinamentos de Aristóteles

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Por Charles Schaffer Argelazi

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Em um momento crítico como este a primeira vítima é o discernimento, a lógica embota, o humanismo dá espaço muitas vezes ao ódio.

Aristóteles inaugurou a teoria da dedução, o silogismo clássico trazia uma premissa maior, uma menor e uma conclusão.

É possível que Lula nunca tenha estudado ou lido Aristóteles, mas sem dúvida tem aderência não apenas ao sentido de justiça trazido na “Ética a Nicômano” como também aos estudos do “Órganon”.

Aristóteles logo em suas primeiras aulas dispunha sobre o valor da lógica. Apresentava o silogismo mais famoso de toda história:

*Premissa maior: Todos os homens são mortais*
*Premissa menor: Sócrates é homem*
*Conclusão: Logo Sócrates é Mortal.*

Lula, com a sua habilidade inigualável, recorreu ao silogismo com premissa oculta, conseguiu driblar não apenas uma oposição de direita brasileira que exigia que incluísse a denominação “Hamas” ao pronunciar-se sobre os ataques terroristas, mas também uma esquerda arcaica, também brasileira, que sistematicamente defende o indefensável: Extermínio, estupros e sequestros de bebês e crianças. Pode ser na Ucrânia, pode ser em Israel. Basta os EUA estarem em um dos lados, ele sempre será o lado errado e qualquer atrocidade será justificada.

Driblou também os limites da nossa diplomacia, o Itamaraty só reconhece um grupo terrorista quando assim ele é reconhecido pela ONU. E assim foi a diplomacia nos governos Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma Temer e, inclusive, Bolsonaro.

Fato é que tanto esta direita tacanha que habita nossa política, como esta esquerda igualmente tacanha são unânimes no desprezo à lógica mais sensível, trazem embotadas a capacidade de discernimento. Ambos ficaram insatisfeitos com as declarações do Lula que foi preciso no seu silogismo com premissa oculta.

Lula, já no primeiro dia já qualificou os ataques como terroristas: “Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas”

Dias depois, em conversa com o Presidente Herzog, de Israel, Lula “reafirmou a condenação brasileira aos ataques terroristas e a solidariedade com os familiares das vítimas.”

É verdade, não citou ou nominou o “Hamas”, não precisa. Vejamos:

*Premissa: Os ataques perpetrados contra civis dentro do Estado de Israel no dia sete foram ataques terroristas.*
*Premissa oculta: Foi o Hamas quem promoveu os ataques aos civis israelenses do dia sete.*
*Conclusão: Logo, o Hamas é um grupo terrorista.*

No mais, Lula traz o sensato pensamento que parece tirado da Ética a Nicômano, um Aristóteles vivo: Que o Hamas liberte as crianças reféns, e que Israel cuide de não promover ataques a civis e proteja as crianças inocentes em Gaza, que seja planejada uma intervenção humanitária. Ainda, que se retome o mais breve as negociações para um projeto de paz na criação de um Estado Palestino.

Novamente temos, com Lula, uma premissa oculta: Nesta negociação nem os extremistas do atual governo de Israel nem o Hamas poderão ser os interlocutores.

Charles Schaffer Argelazi é sociólogo e advogado

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