Encontrei Jesus…

Por Luiz Hespanha

 

Moro perto de vários templos. Na minha área tem a Catedral da Sé, as igrejas do Carmo e de N.S. Achiropita; a Messiânica, o terreiro do Babalorixá Pai Francisco de Oxum, que não está mais entre nós; a Federação Espírita, os templos budistas e a Grande Loja Maçônica do bairro da Liberdade; a Catedral Ortodoxa e a Igreja Batista Chinesa. Tem também a Universal no antigo teatro Band, onde vi (e velei) Elis, Egberto Gismonti e o Chacrinha; além da Internacional da Graça, a Mundial do Poder de Deus, entre tantas que têm dízimo demais e Deus de menos.

Aqui perto também têm locais nada sagrados, mas que reverencio pela atmosfera e pelo que significam em cultura, história, aprendizado, papo, som, petiscos, teores alcoólicos e fauna. Conheço bem esses lugares, fechados ou abertos com restrições por conta do Covid,

Tem o Rancho do Raimundo e sua “nordestinidad”; o Madame Satã e suas figuras com ares de mangás e de cavernas futuristas; a Escola de Samba Vai Vai; a palestinidad do Al Janiah; o Café Piu Piu e o melhor do jazz paulistano; o samba da Toca da Capivara; o Sabelucha do Bruno que se foi; o ECLA do velho amigo Claudimar e seu ambiente de revolução permanente; e a União de Mulheres da amiga guerreira amada Amelinha Teles. “Porr’aqui” também tem um bloquinho, maravilhosamente teimoso, que está construindo a tradição de sair no primeiro sábado pós-Carnaval pelas ruas do Bixiga/Bela Vista.

Era um sabadão desses. Com mais da metade do circuito feito e com o cansaço batendo nas canelas, resolvi voltar pra casa com a parceira de vida, suor, raios e alegrias. Foi aí que demos de cara com ele, o próprio, montado nas sandálias da humildade e com aquela cara de vocalista de banda de rock inglesa ou de Seattle.

Sim, foliões e não foliões, crentes e ateus, devotos e não devotos com ou sem votos, nós vimos o cara: ele mesmo, o filho do Todo Poderoso. Nós vimos Jesus, apressado, passando batido por todos os templos do caminho. O que ele queria mesmo era pegar o rabicho da alegria do Carnaval no Cordão do Jamelão. Olha o cara aí na foto que tirei…

 

Luiz Hespanha

Luiz Hespanha é jornalista, escritor e compositor de música popular #cançõesdeamordelíriotesãoinquietudelutadeclasseeócio. Este texto é parte do projeto #impressõesquaseportáteis #históriasqueosolhosnãoinventam.

 

 

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