Que a extrema-direita estadunidense é um perigo, todos sabem. Que é um perigo global, idem. Que o trumpismo e o QAnon e figuras como Steve Bannon e Jason Miller são um perigo especialmente para o Brasil, também. Também é notório que Jair Bolsonaro está nos EUA, além de fugido, estreitando laços com os herdeiros da Macarthismo e da Klan.
Menos patente, porém, tem sido a relação de Bolsonaro e família com a organização “conservadora” estadunidense Turning Point, de origem estudantil, dedicada à “guerra cultural”, que fornece kits de ativismo anti-esquerda para adolescentes e que é metida até a medula com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Uma relação menos óbvia, pelo menos até o último 3 de fevereiro.
Naquele dia, o Turning Point montou um palco na Flórida para o “speaker” Jair Bolsonaro subir, pisar e pegar num microfone pela primeira vez desde que deixou a presidência do Brasil, em evento denominado “Power of people” (“Poder do povo”). Foi para o líder do Turning Point, o supremacista Charlie Kirk, que naquele dia Bolsonaro deu sua primeira entrevista desde que perdeu a eleição.
Ao apresentar Bolsonaro no Twitter, Kirk pontuou junto aos seus dois milhões de seguidores que “o Brasil tornou-se um campo de batalha fundamental no confronto global entre o poder do povo e a tirania de uma máquina globalista corrupta”; ao apresentar Bolsonaro in loco, no “Power of people”, Kirk disse que o Turning Point montou um palco para Jair Bolsonaro na Flórida porque “a batalha contra o socialismo e o marxismo não conhecem fronteiras”.
Mas não é de hoje que vigora a relação dos Bolsonaro com o Turning Point. Este é Eduardo Bolsonaro de “speaker” em um evento do Turning Point na Flórida em julho de 2022:
Este é um tuite de Charlie Kirk postado (e depois apagado) em 4 de janeiro de 2021, antevéspera da invasão do Capitólio:
“Este evento histórico provavelmente será um dos maiores e mais importantes da história americana. A equipe Turning Point tem a honra de ajudar a fazer isso acontecer, enviando mais de 80 ônibus cheios de patriotas para [Washington] DC, para lutar por este presidente [Donald Trump]”.
Dias antes, a Turning Point, que havia arrecadado US$ 40 milhões em doações em 2020, já havia anunciado em seu site a caravana para engrossar a “marcha para salvar a América”:
Quarenta fucking million dollars
Sobre o ataque bolsogolpista à Praça dos Três Poderes, um dos points a que – surpreendentemente – até agora não se deu muita atenção é aquele da caravana não de mais de 80, mas sim de mais de 100 ônibus “cheios de patriotas” que chegaram livre e coordenadamente a Brasília na manhã do dia 8 de janeiro.
Quem coordenou? Quem teve “a honra de ajudar a fazer isso acontecer”?
OU CLICANDO E OBSERVANDO OS ANÚNCIOS QUE APARECEM NA PÁGINA.
QUALQUER FORMA DE CONTRIBUIÇÃO É BEM VINDA.