Construir Resistência
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Os 15 mais gentis, simpáticos e bacanudos personagens da história do nosso Corinthians

Por Walter Falceta

 

Cheguei à triste conclusão de que, em geral, nos mobilizamos somente para descer a lenha na turma que habita a nossa trincheira.

Poucas vezes, vemos um post para elogiar a postura pessoal de um atleta ou membro da comissão técnica do Corinthians.

Portanto, faço aqui uma lista das irmãs e dos caras mais “gente fina” que passaram por nossa casa.

1 ) Quero começar com um que não era jogador, mas que foi técnico, preparador físico e conselheiro dos atletas, inclusive figura fundamental na conquista de 1977: o querido professor José Teixeira.

Tive a oportunidade de dar aula com ele para profissionais de Psicologia, Assistência Social e Direito no curso do CDC para profissionais que lidam com jovens em conflito com a lei.

A atividade foi abrilhantada pelo espetacular professor Plinio Labriola, uma das figuras que mais conhece a história de nossa instituição.

José Teixeira sempre foi gentil, generoso, solícito e carinhoso, procurando sempre ajudar a fazer uma juventude mais sadia, consciente e cheia de esperança. Um ser humano espetacular.

2) Sócrates era o filósofo, o rebelde, o anarcossocialista, o sonhador, o namorador, o amante de festas bacantes, mas também o cara generoso, carinhoso e atencioso. Não importava quem você fosse, logo se tornava especial para ele. Um cara de outra dimensão, anjo, ou algo do gênero.

3) Wladimir trabalhou conosco na Todosport, que tinha sede em Miami, lá na virada do século. Depois, eu e Jura Souza passamos anos gravando em imagens depoimentos seus. Eu tenho todo esse acervo. Nunca vi o Wlad perder o sorriso e o bom humor. Amigaço. Lembro como tremia quando subiu ao carro de som, em 2016, para falar contra o golpe. Fez o circuito completo da democracia.

4) Zé Maria, esse aí tem a santidade no coração. Faz anos e anos que atua também em favor dos jovens em conflito com a lei, especialmente os meninos negros. É paciente, sábio, simples, um apóstolo do carpinteiro, com certeza. Também trabalhou conosco em um dos cursos do CDC nas medidas socioeducativas. Coração de ouro!

5) Idário foi o mais raçudo dos corinthianos. A última conversa que tive com ele ao telefone me corta o coração até hoje. Desamparado, triste e ressentido, mas ainda assim apaixonado pelo Coringão. Nós o enterramos na Quarta Parada, mas ele permanece entre nós. Em cada jogo importante do nosso time, sinto a presença vigorosa do querido El Sangre, nosso irmão mais destemido.

6) Cabeção se tornou meu amigo e amigo do Anderson Moraes. Depois das primeiras visitas, passamos a nos falar no 7 de Agosto. Afinal, fazíamos aniversário na mesma data. Cabeção era dedicação, generosidade e puro amor no coração. Lembro que sobrou uma graninha boa da Barbearia depois de uma homenagem. Cabeção que, vivia de modo modesto, quis que todo o valor fosse destinado a instituições de apoio a crianças com deficiência. Figura humana que certamente está no setor ouro da arquibancada de cima.

7) Luizinho eu só vi jogar alguns minutos contra o Coritiba, mas sei de sua história pelos meus pais, Dona Bida e Seu Walter, que o conheciam aqui do bairro, e que encontravam com ele no antigo Cine Carrão. Segundo meus velhos, era humilde, simples e divertido, corinthiano de coração e generoso. O que tinha dava a quem necessitasse. Um homem do povo, magrelo, curioso e, sobretudo, dado à partilha.

8 ) Teleco era o cara do nosso antigo museu, extremamente zeloso, paciente ao praticar a pedagogia corinthianista. Era modesto também. Ninguém diria que o polidor de troféus tinha sido mais efetivo que o festejado Pelé. Um cara fabuloso, cheio de virtudes e de sorriso tímido. Jamais será esquecido.

9) Neco era o Corinthians que não admitia perder. Era um chato, inconformado como eu, que largava a cinta, em sentido literal ou figurado, sempre que o time não correspondia às expectativas. Não o conheci, mas estivemos próximos de sua filha (já falecida) e de sua neta. Também conferimos sua rica memorabília. Meu avô, sim, tinha Neco em alta conta, por sua rebeldia. Era o herói que tinha resgatado nossos troféus desde a propriedade do senhorio cruel. Neco é a alma inconformada do jogador-torcedor.

10) Tuffy era recordação do meu avô, que era pintor e músico. Para ele, nosso goleiro era um sujeito de outro patamar, elevado em sensibilidade, cultura e senso social. Foi um mecenas das artes e um defensor ardoroso da inclusão social, o que se viu na campanha em favor de Tatu. Tuffy era corinthianismo em estado puro.

11) Dona Marlene sempre foi a simpatia em pessoa. Lembro de uma passeata que percorri com ela, até o Pacaembu. Era bonita, falante, amante das artes e moderna, mesmo cultivando valores tradicionais. Sua casa, no entanto, era um centro de peregrinação dos vulneráveis. Era gente entrando e saindo, pedindo um dinheirinho emprestado, um saco de feijão, um remédio para dor de dente. Muito do que fazia era às escondidas. Quem assim age, ocultando a caridade, merece o reino dos céus.

12) Flavio La Selva fazia de tudo. Viveu pouco no tempo, mas fez mais que anciãos que lograram atingir os 100 anos. Era um homem de fé, sempre inspirado pelo arcebispo do Dom Paulo Evaristo Arns. Atuou com gentileza e compreensão na Pastoral Carcerária. Ajudou a criar hospitais e meteu-se em inúmeras obras de caridade pela cidade. Fundou os Gaviões da Fiel, para resistir a qualquer ditador, em uma época de forte repressão da Ditadura Militar. Um cara muito à frente de seu tempo. Um verdadeiro corinthianista.

13) Miguel Battaglia era de uma família do Bom Retiro muito parecida com a nossa. Moravam próximos. Na época da fundação, meu avô tinha 16 anos e se lembrava do cara da Light que tinha virado alfaiate. Era discreto, tranquilo, mas sabia MUITO da melhor política. Foi ele quem inoculou o anarquismo no “bebê Corinthians”, com o princípio ativo do pensamento malatestiano. Com o irmão Salvatore, o barbeiro, eram luzes do pensamento progressista no bairro das mil raças. Um cidadão exemplar que fez de nós o que somos hoje.

14) Elisa!!! Que dizer? Sapiência amorosa, preta, popular. Mulher trabalhadora, fiel e inspiradora. Era olhar para ela na bancada e recuperar a fé, mesmo nos momentos mais dramáticos. Obrigado, companheira!

15) Dona Antônia! Para os fundadores, era um exemplo de fé, dedicação e rebeldia. Mulher negra, forte, trabalhadora, com a ternura que conquistou o coração do italiano Perrone. Bordou nosso primeiro símbolo. Segundo meu avô, acompanhava o marido branco no estádio da Ponte Grande, pisando em todo o preconceito racial ainda vigente na época. MULHER simplesmente GIGANTE!

Walter Falceta é jornalista e um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)

 

Elisa

 

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