Nem tudo está perdido

Por Amanda Moreira

Nos últimos dias observei dois cenários preocupantes: 1) o desespero exagerado daqueles que acharam que o mundo acabou devido aos resultados eleitorais; 2)o otimismo ingênuo daqueles que tentaram florear o resultado das urnas.

Primeiramente, digo que comigo não tem essa de tentar dourar a pílula. Na minha avaliação fomos derrotados e ponto. As vitórias, embora importantes, não compensaram os imensos danos. Não dá para camuflar a força que o bolsonarismo ainda tem, assim como não dá para jogar a toalha e achar que tudo está perdido.

O capitalismo historicamente impõe uma coleção de derrotas para a classe trabalhadora, isso não é novidade para ninguém.. Mas em sua fase neoliberal a derrota imposta é acachapante! O sistema neoliberal conforma corpos e  mentes de um jeito incontrolável e a extrema-direita é um produto desse capitalismo neoliberal.

O que faz com que  trabalhadores superexplorados defendam seus próprios algozes? Precisamos entender o que mobiliza o discurso bolsonarista entre as camadas mais pobres, desfazendo-nos da assunção de uma suposta “falta de consciência” ou autoengano dos trabalhadores que acabam abraçando os próprios carrascos. É mais do que isso.

Muitos trabalhadores hoje se consideram “autônomos”, não só do ponto de vista laboral, mas também dos pensamentos. Assim, muitos imaginam estar pensando por si mesmos quando, na verdade, estão reproduzindo a lógica de viuda que contribui para sua própria opressão. Em certo sentido, o bolsonarismo incorpora essa busca pela “autonomia.”

A ideia do “sou capaz de fazer sozinho” anda de mãos dadas com o “não preciso do Estado” e essa combinação é bombástica, porque segundo essa concepção de mundo o governo tem o aval para intervir mais na pauta de costumes do que no contexto social. Segundo a lógica neoliberal, junto ao seu produto neofascista, a vida das pessoas não precisa de Estado, só precisa do esforço pessoal e mais nada. Quem não se esforçou o suficiente precisa ser eliminado, na pura lógica do darwinismo social. Isso é o que historicamente explica o ódio aos pobres, a xenofobia, o racismo, e que o neoliberalismo junto ao bolsonarismo elevam à décima potência.

Quando um empresário do agro, um miliciano ou um nazi-fascista defendem Bolsonaro, os motivos são claros e não cabe explicações. Entretanto, quando uma trabalhadora super explorada, negra, de periferia, defende esse governo há aí uma complexidade que precisa ser melhor compreendida e analisada em profundidade. Considerando a realidade histórica do nosso país, é impossível que 51.072.345 pessoas (que votaram em Bolsonaro) pertençam ao grupo de abastados ou fascistas.

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor “

Essa frase de Freire  não deve ser restrita ao contexto da educação formal – aquela que ocorre nas escolas – mas deve estar relacionada a todos os aparelhos de hegemonia que fazem a “educação” da classe trabalhadora (principalmente as igrejas, potencializadas pelos aplicativos de mensagem que conseguem replicar na velocidade da luz as ideias mais obscuras que se possa imaginar).

O desespero cria exércitos alucinados, mas a esperança alimenta multidões!

SIGAMOS JUNTOS! AVANTE, CAMARADAS! DERROTAR BOLSONARO NAS RUAS E NAS URNAS SERÁ NOSSA TAREFA PRIORITÁRIA E DEVEMOS ESTAR FOCADOS NISSO!

 

Amanda Moreira é doutora em educação pela UFRJ e professora da UERJ.

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