Por Sergio Papi – texto e ilustração
O alcaide de Piratininga, ilustre desconhecido, alçado ao cargo por irresponsabilidade da maioria dos munícipes, resolveu humanizar a cidade. Segundo declarou, não vai deixar barraca em pé nas calçadas e praças de São Paulo. Afinal, é preciso viver sob império da lei e da ordem. Alegou vossa excelência, que a acintosa miséria e degradação, produzida pelo sistema capitalista, fere olhos e olfatos e atenta contra o direito de ir e vir das pessoas de bem, os cidadãos que pagam seus impostos.
Como se trata de humanizar a polis, a polícia atuará de forma humana na remoção, como sempre faz, aliás, a força pública. Os idosos abandonados, as crianças perdidas, os pais e mães de rua, os poetas solitários que escrevem em cadernos, os hippies que fazem colares de miçanga serão encaminhados a centros de detenção, quero dizer, de acolhimento.
O anúncio higienista da autoridade, ocorre depois de desastrada operação policial que, a pretexto de combater o tráfico, espalhou usuários de crack pelas ruas do centro, prejudicando comerciantes e moradores, sem resolver o grave problema social. Estima-se em quase 50 mil humanos, atualmente, habitando calçadas, praças e outros logradouros.
Desemprego, fome, falta de teto. Um radiante outono prenuncia o frio inverno.
Sérgio Papi é escritor, arte finalista, web-design e ilustrador