Por Sonia Castro Lopes
Golpes militares com tanques na rua, definitivamente, passaram de moda. Os nostálgicos golpistas têm hoje outros meios de impor suas idéias e divulgar suas crenças. O pior de tudo isso é que tais idéias e crenças ainda encontram ressonância em ignorantes que, desacreditados nas instituições democráticas e na força do diálogo, seguem o líder como um gado submisso. Pasmem, leitores, mas cerca de 20 a 25% do eleitorado brasileiro assim procede. Em que pese a debandada de ex-apoiadores desiludidos com a débâcle da Lava-jato e a desmoralização do juizeco parcial, a descrença dos empresários com as promessas de políticas privatistas e a imprensa hegemônica que bate diariamente no governo que ajudou a eleger, pelo menos um quarto da população ainda se veste de amarelo e aposta no fürher tupiniquim a quem chamam ‘mito.’
A crise institucional está posta. A incontinência verbal do presidente, que não poupa ofensas às instituições democráticas, é uma amostra do desespero que assombra o governo. E é para desesperar mesmo: uma pandemia que, longe de ser debelada, deixa um legado de quase seiscentas mil mortes, o retorno de Lula e a ascensão de quadros progressistas no cenário político, o excessivo número de desempregados, a situação de miséria a que estão condenadas as camadas empobrecidas da população, o descaso com a educação e a cultura… A tudo isso se acrescenta a CPi da Covid que pode até não dar em nada, mas tem feito um barulho ensurdecedor ao denunciar a corrupção que corrói a reputação de militares e assessores de um ministério que deveria cuidar da saúde e não o fez. Aos seguidores do capitão resta recolher-se às redes sociais na tentativa de divulgar mentiras, assim como fizeram na campanha de 2018.
A nova ‘mamadeira de piroca’ é a campanha pelo voto impresso. Essa é a nova pauta imposta pelo governo. Mais um factóide, mais uma cortina de fumaça para desviar a atenção da população de questões realmente graves. Os articulistas políticos e formadores de opinião têm caído nessa emboscada. Os políticos, estrategicamente colocados em postos-chave para livrar o governo de um possível impedimento, procuram administrar a crise e agradar o ‘chefe’ empurrando com a barriga uma reivindicação natimorta ou engavetando processos que o incriminam. Até quando? Quem assistiu Ciro Nogueira, atual chefe da casa civil, beijar as mãos de Dilma há cinco anos e hipotecar-lhe solidariedade sabe muito bem que esses novos aliados não são confiáveis. Quando novos ventos soprarem, lá se vão eles como andorinhas em bando voejar em outras freguesias.
E segue o barco. O projeto do voto impresso vai a plenário mesmo tendo sido derrotado na Comissão da Câmara. Virada a página, outro factóide surgirá, com certeza. E assim, cercado de ‘aliados’, com as instituições devidamente aparelhadas, o governo sobrevive, quiçá até o final do próximo ano. Uma nova bolsa família rebatizada tentará cooptar os mais pobres que já batem em retirada. O aumento do PIB e o revigoramento da economia pode até iludir os desavisados, mas a fome continuará a bater na porta dos que nunca se beneficiarão com esse suposto crescimento. A saída? Ir pra rua, denunciar factóides, tentar desmentir as fake news que circulam nas redes sociais. Cabe à grande mídia escapar das armadilhas, separar o joio do trigo e expor ao público as entranhas desse país apodrecido. Zero espaço para as novas mamadeiras de piroca, sob pena de não acordarmos desse pesadelo.
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Vc está cada vez mais afiada. Parabéns…amei
Obrigada!!!