Como no Riocentro, tentativa de explodir aeroporto de Brasília têm digitais dos militares

Por Simão Zygband

É evidente que o empresário George Washington Sousa, que está preso sob a acusação de ter colocado uma bomba ao lado de um caminhão de transporte de combustível próximo ao Aeroporto JK, em Brasília, em 24 de dezembro do ano passado, não agiu sozinho. Estava a serviço de militares que tramaram um golpe de estado contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os fascistas, inclusos os civis e militares, tentaram criar um clima de terror para justificar a intervenção do Exército na democracia brasileira. Em depoimento na última quinta-feira (22) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os ataques de 8 de janeiro, ele se recusou a responder a maioria das perguntas formuladas por deputados e senadores. As que respondeu, era evidente que tentava acobertar os mandantes do crime.

Agora surge um novo indício de envolvimento dos militares na tentativa de atentado terrorista ocorrido no dia 24 de dezembro, às vésperas do Natal. O carro envolvido na tentativa de ataque a bomba ao aeroporto do Distrito Federal, foi localizado no estado do Paraná, em posse do Sargento Paulo Leandro Galdo Rodrigues, um militar em serviço ativo e suplente de deputado distrital do Distrito Federal. A Polícia Civil do Distrito Federal concluiu que o blogueiro de extrema-direita Wellington Macedo de Souza havia utilizado um Hyundai Creta para inspecionar as imediações do aeroporto durante toda a madrugada daquele dia com a intenção de detonar um caminhão de combustível.

A investigação está detalhada em relatórios preliminares da Polícia Civil entregues à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) em 8 de janeiro. O veículo, que pertence à parceira de Wellington, Andressa Aguiar da Silva Macedo, deixou Brasília em 9 de janeiro, um dia após as ações golpistas, quando vândalos destruíram as dependências da praça dos Três Poderes, em deprimente episódio.
Esta ação lembra em muito o “modus operandis” realizada pelos militares no chamado Atentado do Riocentro, ocorrido na noite de 30 de abril de 1981, durante o período de abertura política, quando os agentes do Exército, ligados à linha dura, tentaram colocar uma bomba no Centro de Convenções do Riocentro, onde se encontravam 20 mil pessoas durante um espetáculo de MPB em comemoração ao Dia dfo Trabalhador, realizados por opositores do regime. O atentado fracassou e a bomba explodir no colo de um militar, dentro do veículo parado no estacionamento.
O objetivo do Atentado no Riocentro era incriminar grupos que se opunham à ditadura militar no Brasil e, assim, justificar a necessidade do seu aparato de repressão e retardar a abertura política em andamento. Ele foi planejado com conhecimento e participação da alta cúpula militar e, possivelmente, do próprio presidente da República, o general João Figueired0. O problema é que a ação falhou e uma das bombas explodiu longe de seu alvo e outra detonou prematuramente, danificando os explosivos restantes e vitimando dois dos terroristas, o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que morreu instantaneamente, e o capitão Wilson Dias Machado, que ficou gravemente ferido.
Na CPMI de 8 de janeiro

Acusado de ter participado também da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em Brasília, no dia 12 de dezembro – data da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva –, George Washington negou que a tentativa de explosão do caminhão tanque nas proximidades do aeroporto de Brasília e a invasão da sede da Polícia Federal, além dos episódios de quebra-quebra e destruição ocorridos no dia 24 de dezembro tenham relação com a invasão das sedes dos três poderes uma semana depois da posse de Lula. Tentou assim despistar as evidências, como se elas fossem possíveis.

Orientado por sua defesa, George Washington não respondeu a questionamentos sobre fonte de renda e sobre sua relação com parlamentares. Sobre a rotina no acampamento instalado no Setor Militar Urbano da capital federal para protestar contra o resultado das eleições, ele apontou para a presença de infiltrados, que teriam sido identificados pelo setor de inteligência das Forças Armadas. “Uns apareciam. Quando eram descobertos, saíam, apareciam outros. Tinham ônibus de infiltrados. Isso o Exército detectou”, afirmou.

 

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