Reflexões sobre as Olimpíadas de Tóquio

Por Simão Pedro Chiovetti

Como não se emocionar com a Cerimônia de Encerramento das #OlimpíadasdeTóquio que se deu neste domingo (8) com as conquistas dos nossos atletas, o esforço de superação para chegar ao pódio ou entre os primeiros, as entrevistas depois das provas? Também com os fracassos da maioria, o inconformismo por ter treinado tanto e lá ser superado por outros atletas até desconhecidos?

A gente é muito tocado ainda por uma espécie de espírito nacionalista a nos provar que, apesar da situação de retrocessos na economia, na política, no social e no meio ambiente, podemos através dos esportes resgatar o orgulho de sermos brasileiros. Os atletas mostraram um Brasil que Bolsonaro tenta sucumbir, a começar, inclusive, com a extinção do #MinistériodosEsportes. Tantos atletas brasileiros orgulhosos das suas origens, crenças e orientações, marcaram os #JogosOlímpicos com diversidade humana, mostrando que a convivência fraterna e não o ódio e a violência, estimulados pelo atual mandatário e seus apoiadores, é a nossa principal riqueza nacional.

Das sete #medalhasdeouro conquistadas, quatro foram para atletas da região #Nordeste, lugar onde #Lula transformou no “lugar de seca” para um lugar que se desenvolve e gera oportunidades em todas as áreas, inclusive nos esportes. A ginástica, esporte de altíssimo rendimento, teve na jovem Rebeca, oriunda das favelas, que ensinou que investir no esporte como fator transformação social é um excelente caminho.

Mas, vou confessar uma coisa que também me chamou a atenção: com exceção de alguns atletas do futebol e do vôlei, a maioria dos nossos que foram às Olimpíadas eu não conhecia. Passei a conhecê-los nas transmissões.

Pensei: “pode ser um problema meu que não acompanho as notícias e a vida de outras modalidades esportivas que não o futebol”. Mas perguntei aqui em casa e todos confirmaram minha percepção: nossos heróis ou representantes só viram carinhas conhecidas quando se destacam.

É o caso da Rebeca, do Alison, do Isaquias e outros brasileiros que nos emocionaram. A grande mídia é muito culpada disso, bem como as empresas patrocinadoras que só se interessam pelos esportes se for para explorar suas marcas e aumentar seus lucros… Também dos governos, como o atual, que não investem o suficiente em políticas públicas de esportes.

Pode parecer, aos olhos dos desinformados, que nossos atletas são ultraprofissionalizados, mas 80% deles dependem do programa #BolsaAtleta criado pelo governo Lula para se manterem e treinarem. É estarrecedor saber que 42% dos nossos atletas que foram à Toquio não tem nenhum patrocínio. Que 19% vivem com até R$ 2 mil mensais e 7% vivem com até R$ 1 mil por mês. Que 13% tiveram que fazer vaquinha para ir ao Japão e 10% sequer vivem do esporte dos quais 15% são motoristas de aplicativos. Peguei esses dados do twitter de #MateusAngelBorjaLeal.

Tudo bem: sou adepto de uma visão mais humanista e por isso não estou defendendo aqui que todo esporte olímpico deva ser profissionalizado, pois isso não é consenso e o bom é que os esportistas amadores têm espaço ainda nos jogos olímpicos e em outras competições mundiais. Também – vejamos o exemplo da nossa Fadinha, Rayssa Leal, #medalhadeprata no skate – temos casos de esportes como a ginástica artística que parece ser mais apropriada para o físico de adolescentes e é menos longeva que outros e aqui é preciso cuidar de outros aspectos como os estudos, o lazer e necessidades próprias dessa fase da vida dos nossos jovens.  A rebelião da jovem atleta norte-americana, Simone Biles, de denunciar a pressão que sofria e afetava sua saúde mental.

Defendo que esse espírito, de espaço também para os amadores, deva prevalecer, como é o caso dos esportistas com deficiências físicas, denominados paraolímpicos. Chamo a atenção para o desconhecimento, a falta de informações, de destaque no dia-a-dia, para que o esporte seja inspiração e motivação para as pessoas comuns o praticarem, manterem a saúde e também se divertirem. A emoção da superação de cada atleta ocupou o lugar do tédio obscurantista e nos inspira a superar também esses tempo de miséria, desprezo pela vida e a lutar por mudanças políticas!

Simão Pedro Chiovetti é sociólogo, ex-deputado estadual por três mandatos e ex-Secretário de Serviços de São Paulo na gestão Haddad. Hoje, Secretário de Movimentos Sociais e Setoriais do PT/SP.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *