Quando o entrevistador se curva ao entrevistado

Lula supera desafeto e dá show em entrevista

Roberto Garcia

 

Muito interessante a entrevista do Lula. Valeu o tempo que investi acompanhando. Esclarecedora. Aprendi. Recomendo. Muito mais esclarecedora que as incontáveis entrevistas feitas pela Band com o Bolsonaro. Acho que antes de começar a ouvi-la é importante pendurar preconceitos num cabide qualquer, desvestir-se de noções pré-concebidas e ater-se aos fatos discutidos. Náo vi pegadinhas, golpes de retórica, tentativas para ludibriar.

Impressionado com um fato: a lava jato não puniu, pelo contrário, premiou os delatores, que tinham participado de crimes. Eles ficaram com milhões, com seus confortos, fumando charutos cubanos. Os punidos foram as centenas de milhares de empregados que hoje estão na rua.

Comparo com algo que vi acontecendo quase ao mesmo tempo: na Coreia do Sul, o presidente da Samsung foi preso por corrupçao e ficou na cadeia. Mas a empresa continuou funcionando, mantendo seus funcionários, inovando, lançando no mercado produtos de excelente qualidade.

Basta ler o Wall Street Journal ou o Financial Times para ver, diariamente, super empresas, e super bancos flagrados em ilegalidades. Punidos com pesadas multas mas continuando a funcionar porque prestam serviços essenciais à sociedades em que operam. Aqui as empresas foram praticamente fechadas.

Outro fato importante: a alegação de que não há dinheiro para investir e retomar o crescimento. O ex-presidente lembrou que os países mais dinâmicos tem dívida imensas, até de 250 por cento de seu PIB. Lembro-me de ouvir discursos inflamados do entao senador Caiado denunciando um deficit da Dilma que se aproximava de 60 bilhões, e a relação divida-pib chegando a 60 por cento. No primeiro ano de Temer o deficit ultrapassou os 100 bilhões e nunca diminuiu desde então. Agora está quase o dobro disso. A relação divida-pib agora quase passa de 100 por cento e nada foi feito de investimento. Absolutamente nada.

E ai vem a notícia, ontem, de que o TCU deu um prazo de 5 dias à Petrobras para explicar a venda da refinaria na Bahia. A empresa e banco privado avaliaram o valor da refinaria em 3 bi de dolares. Mas ela esta sendo vendida, sem licitação, por menos da metade desse montante. Inexplicáveis negócios de um governo que se exibe como combatente da corrupção. A toque de caixa, por uma diretoria que está a menos de um mês de sua saída.

Tempos estranhos, estes em que estamos vivendo.

 

Roberto Garcia é jornalista.

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