Construir Resistência

O Sol vai brilhar e iluminar a nossa alma

Por Beatriz Herkenhoff

Tenho escrito sobre a importância da ocupação dos espaços públicos como estratégia no enfrentamento das sequelas deixadas pela #pandemia. E nesse sentido os parques, as praças, as praias oferecem o melhor lazer. Além da gratuidade, restauram a energia que se encontra abatida pela longa experiência de solidão e isolamento.

Minha cidade, #Vitória, ES, é linda e oferece muitas oportunidades de contato com a natureza, de realização de trilhas e caminhadas. Com parques maravilhosos que nos convidam a encontros com familiares e amigos, para realização de piqueniques e brincadeiras ao ar livre.

Nasci e morei em #CachoeirodeItapemirim (ES) até os 17 anos. Como era uma cidade muito quente, a água nos atraia, refrescava, alegrava, renovava e aliviava. Buscávamos a água prazerosamente, ousadamente, e, em alguns momentos, até perigosamente.

Brincávamos na chuva, tomávamos banho de mangueira, íamos a sítios com cachoeiras e rios. Estabelecíamos uma relação amorosa e harmoniosa com o rio Itapemirim.

Todos os finais de semana íamos para o #ClubeJaraguá. Mil brincadeiras na piscina: mergulhar, nadar, ver quem ficava mais tempo embaixo d’água.

Morávamos perto do litoral, as praias de #Marataízes e #Guarapari eram nossa segunda moradia. Como as férias escolares duravam três meses, mudávamos para a cidade veraneio nesse período, e passávamos as manhãs, tardes e noites na praia.

Mergulhar no mar era um mistério a ser desvendado e, ao mesmo tempo, um desafio pelo sua infinita beleza. Nadar até bem longe e mergulhar para pegar areia no fundo do mar, era algo mágico. Nadávamos sempre em grupo. E nesses momentos, é como se habitássemos o planeta água.

Como canta o querido #GuilhermeArantes:

Água que nasce na fonte, serena do mundo e que abre um profundo grotão… Terra, planeta água. Terra, planeta água.

Na ocasião eu não tinha essa consciência, mas, enquanto brincávamos, a água curava o corpo e a alma.

Meu filho cresceu experimentando o poder da água. Sua infância e adolescência em Guarapari tinha a praia como referência principal. Além das brincadeiras no mar, fazíamos buracos gigantes e lindos castelos de areia, catávamos conchas e palitos de picolé. Caminhávamos até as falésias da praia da Areia Preta para pintar o corpo com um barro natural. À tarde, a praia lotava com os adolescentes e jovens discando. E à noite, jogavam bola nas areias da praia.

Quando meu filho saiu de casa e precisou decidir sobre a cidade onde iria morar, ele me disse:

Preciso morar em uma cidade que tenha mar. Eu preciso da água para encontrar o meu eixo diariamente.

E é assim que eu me sinto. Sem água, eu vou secando.

E o Brasil é um país privilegiado com o seu belíssimo litoral. Que essas riquezas sejam valorizadas nesse momento.

Que o povo sofrido com suas lutas pela sobrevivência, possa também participar de tudo que a natureza oferece. Que possam brincar com seus filhos nas praias, rios, lagos, praças e parques.

Ao ler essa crônica você pode afirmar que não se sente atraído pela água. Mas, não deixe o tempo passar sem fazer algo pelo seu corpo. O corpo pede cuidado, carinho, amor, atenção, afeto, prazer, tempo e prioridade.

O corpo pede urgência, precisa de exercício, de movimento, de fortalecimento. A qualidade do envelhecimento depende do exercício físico. E quando o corpo exercita-se, a alma, a mente e o espírito agradecem.

Agora que os riscos de contaminação reduziram, voltei a caminhar na praça dos namorados, indo até a curva da Jurema e alguns dias, até a Praça do Papa. Quem conhece Vitória sabe a beleza impactante que esse trajeto oferece.

Após um longo período de isolamento, fiquei muito feliz em ver como as pessoas estão ocupando esse lindo espaço público. Muitos grupos se exercitando com diferentes modalidades esportivas: ioga, alongamento, aeróbica, natação, hidroginástica, remo, vôlei, futebol, beach tennis, entre outros. Professores de educação física e fisioterapeutas dando aulas ao ar livre.

Essa região tem mais de três quadras gramadas de futebol; uma quadra com várias redes de vôlei; um espaço em que professores da Prefeitura voltaram da dar aula de aeróbica e hidroginástica. Uma praça com aparelhos para a prática de exercícios. Uma guarderia para os barcos. Mais de 10 redes espalhadas pela praia para a realização do beach tennis.

É lindo de ver e de sentir a vida voltando a pulsar com alegria e criatividade. Aquilo que imaginei já está começando a acontecer!

Além de tudo isso, as famílias estão ocupando os gramados para realização de piqueniques. Criaram um ambiente para o encontro daqueles que possuem cachorros. Cantinhos decorados para comemoração de aniversários.

Crianças, jovens, adultos e idosos interagindo alegremente e com segurança. Preservando os cuidados necessários.

Que o poder público e a iniciativa privada possam apoiar, cada vez mais, iniciativas ao ar livre. Não só no Estado do Espírito Santo, mas, em todo o Brasil. Que essas ricas experiências se espalhem e multipliquem.

Que o sol da esperança em dias melhores volte a brilhar!

Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo).

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