O “Flowdebate” teve soco, sangue e venda de camisetas anti-odor

Por Hugo Souza – Publicado no Come Ananás

No debate do podcast Flow com os candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado na noite da última segunda-feira, 23, lá pelas tantas o mediador Carlos Tramontina comemorou a audiência de mais de um milhão de pessoas dizendo assim: “nós estamos na internet arrebentando”.

Logo depois, um assessor de Pablo Marçal arrebentou a cara do marqueteiro de Ricardo Nunes, após Marçal, em suas considerações finais, chamar o debate de “farsa”, de “balela”, anunciar que “a gente dominou Heliópolis” e, ato contínuo, cavar a própria expulsão do estúdio faltando 10 segundos para o debate terminar.

O Pow, desculpe, Flow virou fenômeno do YouTube com o apresentador do programa, Igor 3K, vendendo-se como o cara do diálogo, cabeça aberta, desarmado, tranquilo e pacato como um grilo no mato em meio ao pega pra capar da “polarização”; levando o “doisladismo” às raias dos papos podiquésticos, de botequim, com as figuras mais inconsequentes, mas assistidos ao vivo por centenas de milhares de pessoas.

É famigerada, por exemplo, a entrevista intimista feita por Igor com Jair Bolsonaro em 2022. Assistido ao vivo por 572 mil pessoas – na época, recorde do Flow -, Bolsonaro enfileirou ao longo de mais de cinco horas mentiras sobre a pandemia, as urnas eletrônicas e a ditadura civil-militar.

Se Hitler voltasse a pisar na face da Terra, e viesse parar no Brasil, era capaz de o führer ser recebido em algum podcast imparcial por algum espírito desarmado para algum debate democrático sobre câmaras de gás. Talvez sim, talvez não depois de Monark, ex-dupla de Igor 3K, fazer apologia do nazismo no Flow, ao vivo, causando prejuízo milionário ao canal e deixando a comunidade podiquéstica escaldada.

Mas voltemos ao “primeiro debate nativo da internet”, que foi feito pelo Flow em parceria com um projeto de extensão da USP orientado por um ex-ministro de Bolsonaro. Antes do debate começar, com os candidatos revezando-se numa banqueta para entrevistas preliminares com a galera do Flow, uma “jornalista”- colunista-do-Antagonista chegou a dizer, às gargalhadas e aos abraços com Marina Helena, que não faria perguntas duras à candidata do partido Novo porque “ela é muito minha amiga”.

Logo após o debate, com a audiência arrebentando a boca do balão na sequência do cruzado de direita, e com Tramontina agitado, brandindo as regras do debate infringidas por Marçal, Igor 3K interrompeu a programação para anunciar 30% off e frete grátis, no cupom “FLOWDEBATE”, num site de camisas “social tecnológicas”, “anti-odor”, que “desamassam no corpo”.

 

Marqueteiro Duda Lima

O “FLOWDEBATE” não teve candidatos fazendo perguntas entre si – ou seja, não foi exatamente um debate -, mas teve soco, sangue e “jornalista” achando graça de pegar leve com amiga-candidata. E, claro, teve cupom com a palavra “debate” pra comprar “tech t-shirts”. E o próximo debate para a prefeitura de São Paulo está marcado para o próximo sábado, 28, na Record. E quando os reguladores de direito do jogo democrático vão começar a expulsar do jogo quem só quer arrebentar o tabuleiro?

Hugo Souza é jornalista e editor do site Come Ananás

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