Por Paloma Varón da revista Paris Macht
“Se eu for o mais bem colocado [nas pesquisas] para vencer [Bolsonaro] e eu estiver com boa saúde, eu não hesitarei [a me candidatar], respondeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 75 anos, à jornalista da revista semanal francesa Paris Match. Publicada nesta quinta-feira (20), a edição traz seis páginas de uma entrevista exclusiva com Lula.
“A volta do ícone da esquerda brasileira gera uma mistura explosiva de esperança e ódio”, escreve a jornalista enviada a São Paulo especialmente para entrevistar o ex-presidente, Manon Quérouil-Bruneel. A entrevista foi concedida na sede do Instituto Lula, na capital paulista, depois de Lula ter tomado duas doses da vacina contra a Covid-19, e de ter a liberação de seu médico.
A crise sanitária no Brasil, país que ultrapassou os 400 mil mortos, foi o tema principal da entrevista. Perguntado sobre a gestão de Bolsonaro para a crise da Covid-19, Lula condenou o negacionismo e a “irresponsabilidade total” do presidente atual, ao minimizar a doença, exortar as pessoas a saírem de casa, quando deveriam se isolar, recomendar o uso da ineficaz cloroquina, agredir a China e subestimar a importância das vacinas, entre outros.
“Ele é o responsável por ao menos metade destas mortes”, declarou o ex-presidente à Paris Match.
Lula afirma que é preciso aguardar as conclusões da CPI da Covid no Senado, mas diz que, em qualquer país onde a democracia funciona normalmente, Bolsonaro já teria sido tirado do cargo. Ele lamenta que, apesar dos muitos pedidos de impeachment, nenhum tenha sido levado a voto pelo presidente da Câmara.
O ex-presidente defende a quebra das patentes das vacinas. “Enquanto os países ricos puderem comprar vacinas para toda a sua população e os habitantes de países pobres continuarem morrendo, ninguém estará tranquilo”, afirma Lula. “Eu acho um absurdo que cada um, em um momento como este, se preocupe apenas com os seus próprios interesses. O mundo é redondo, a Terra gira, então, necessariamente o vírus se espalha. É urgente colocar em prática uma política de luta global contra o vírus”, disse o ex-presidente.
“Os fascistas são minoria”
Sobre a possibilidade, evocada pela jornalista, de um possível golpe militar como o de 1964, desta vez para manter Bolsonaro no poder, Lula diz que, no Brasil, “os fascistas são uma minoria”. “Bolsonaro não é um democrata, mas a maioria da população brasileira é”, afirma o político, acrescentando ter certeza de que Bolsonaro perderá as eleições em 2022.
Lula diz não se tratar apenas de otimismo: “Eu luto por isso [para que Bolsonaro perca]. Eu sou um soldado nesta luta pela democracia e eu não terei um minuto de trégua enquanto Bolsonaro não for derrotado”.
O ex-presidente se compara aos resistentes franceses que lutaram contra os nazistas na II Guerra Mundial.
O legado da presidência de Lula, a sua prisão, a anulação de sua condenação pelo STF e outros temas também foram abordados na entrevista, publicada em forma de perguntas e respostas, na qual o ex-presidente pôde falar abertamente sobre a perseguição judiciária de que foi alvo. “Meu único crime foi ter chegado à presidência, eu, um torneiro-mecânico sem diploma universitário”, disse Lula, uma frase que a revista escolheu para destacar.
Sobre a possibilidade de uma campanha violenta para a presidência em 2022, Lula disse que “a melhor resposta para se opor à violência de Bolsonaro é liderar uma campanha pacífica e não entrar no jogo dele”, diz o já pré-candidato, que lamenta não poder organizar comícios. “Eu estou vacinado, mas a maioria da população brasileira ainda não. Assim que eu puder, eu viajarei por todo o país”, afirmou.
Lula presidente em 2022 é possível?, questiona Paris Match. “Sim, é possível. Basta perguntar ao povo brasileiro”, finaliza Lula.
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