Jornal Nacional burocratiza cobertura sobre intentona golpista

Por Angela Carrato

O que mais me chamou atenção na edição de hoje (26/11) do Jornal Nacional foi a maneira com que foram divulgados os trechos do relatório final da Polícia Federal sobre a atuação dos golpistas, o plano que tinham para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Morais e o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro no processo.
Se o JN quissesse mesmo fazer reportagem, um tema quentíssimo como este deveria ter sido abordado de outra forma.

Sabe-se que o ministro Alexandre de Morais retirou o sigilo deste relatório ao enviá-lo à Procuradoria-Geral da República pelos gravíssimos fatos que contém – que precisam ser do conhecimento público – e também para evitar vazamentos seletivos sobre o seu conteúdo.

Era para o JN ter ido fundo no assunto, ouvindo especialistas na questão militar, historiadores, cientistas políticos, advogados, políticos situacionistas e de oposição, empresários, lideranças sindicais e gente comum.

Nada disso foi feito.

O JN tinha um precioso material, mas se limitou à reprodução quase protocolar de alguns de seus trechos, tornando burocrático um assunto palpitante, da maior gravidade e importância para a população brasileira.

Aliás, não faltou na matéria referências quase elogiosas aos militares que não aderiram ao plano golpista.

Em gíria jornalística isso se chama “jogar para baixo” um excelente material, além de usá-lo para limpar a barra de uns e outros.
Resta saber com qual objetivo.

Tenho lá minhas suspeitas, mas prefiro deixar que cada um reflita a respeito.

Angela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG

 

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