Durante séculos, árabes e judeus conviveram pacificamente

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Por Sergio Papi 

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Em seu livro “Judeus do Islã”, Bernard Lewis mostra inúmeros exemplos de convivência pacífica ente árabes e judeus durante séculos em várias partes do Oriente e até na Península Ibérica.

Já durante as primeiras dinastias árabes, no Oriente Médio, Norte da África e demais territórios conquistados pela expansão islâmica, os judeus encontraram modos de convivência com o Povo do Crescente. Essas comunidades judaicas haviam se abrigado nessas regiões devido a diáspora causada pelas guerras contra o domínio romano, com a destruição do Templo de Jerusalém. Era a terceira diáspora. Os judeus já haviam sido escravizados por babilônios, libertados depois por Ciro, o Grande dos persas. José havia convencido seu povo a emigrar para o Egito, onde depois da morte dele, os judeus começaram a ser perseguidos, escapando para a Terra Santa atravessando o Mar Vermelho, história por demais conhecida.

Alguns historiadores apontam que Maomé pensou primeiro em converter as tribos árabes ao judaísmo, antes de se iluminar na gruta e formular a doutrina islâmica. Quando o Império Otomano se estabeleceu, os judeus puderam, muito graças aos poderes médicos de Maimônides, alcançar prestígio e cargos importantes na administração otomana. Da mesma forma, na Península Ibérica, nos califados, tanto sob domínio dos Omíadas, quanto posteriormente sob domínio mouro, povo islamizado do Norte da África, também os judeus puderam participar da vida social e exercer funções importantes.

No Concílio de Nicéia, nas primeiras eras da Igreja, foi decretado que os judeus haviam traído Cristo. Nesse conselho havia maioria de representantes da Igreja do Oriente. Essa derivaria para a Igreja Ortodoxa que penetrou largamente na Europa Oriental. Foi a gênese do antissemitismo que atingiu seu ponto máximo no Holocausto.

Freud e Franz Kafka são exemplos de judeus dessa época, que desejavam se tornar laicos e cosmopolitas, integrados à sociedade europeia. Antes, na Reforma, Lutero já havia conclamado os judeus a se converterem ao cristianismo, sob ameaça de, caso não o fizessem, se tornarem párias no mundo germânico.

A criação do Estado de Israel moderno, fruto do esforço sionista, tornou conflituosa a convivência com os árabes da Palestina, até então razoavelmente tranquila. Israel se colocava como uma cunha dos interesses do Ocidente no Oriente Médio. Muitas vezes, parece ao observador da política internacional que Israel tem certa autonomia em relação a matriz do imperialismo, os EUA, o que pode ser enganoso.

Talvez Israel seja o Ocidente “que não pode ser controlado”, que tem licença para matar. Um sábio rabino, Leibowitz, considerava um erro a criação de Israel. Achava que as comunidades judaicas da Palestina podiam continuar existindo pacificamente na região, sem a necessidade de conflitos com os árabes. Se judeus e árabes já puderam conviver antes e por séculos, o que impediria isso na atualidade?

Sérgio Papi é escritor, arte finalista, web-design e ilustrador

 

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