Dom Angélico é insubstituível

Por Gilberto Nascimento 

Como dom Oscar Romero e dom Helder Câmara, dom Dom Angélico Sândalo Bernardino, ex-bispo de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, era um bispo dos pobres.

Um bispo e também jornalista, atuante no período do regime militar na região de Ribeirão Preto (SP).

Tive o privilégio de trabalhar ao lado de dom Angélico – e aprender muito -, na então região episcopal de São Miguel, um bairro operário, onde nasci.

Atuei, com jovens amigos estudantes de comunicação, primeiro, no Centro de Comunicação e Educação e Popular (CEMI), que editava o jornal popular Grita Povo.

Depois, trabalhei no O São Paulo, jornal da Arquidiocese de São Paulo, dirigido por ele.
Dom Angélico sempre lutou pela democracia, pela justiça e liberdade, em favor dos direitos humanos e dos direitos básicos e essenciais para a sobrevivência da maioria do povo pobre nas periferias e grotões do nosso país.

Não foi à toa que o Vaticano, em 1989, decidiu dividir a Arquidiocese de São Paulo, tirando dela as regiões episcopais onde os movimentos sociais tinham mais força e intensidade e exigiam, por meio de greves ou protestos, melhores condições de moradia, saúde, transporte e educação.

Lutavam também, inclusive, pelo direito à arte, cultura e lazer.
O Vaticano queria – e conseguiu – enfraquecer o cardeal de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e a Teologia da Libertação.

E tirar de São Miguel dom Angélico, como tirou também outros bispos progressistas de outras três regiões (Santo Amaro, Campo Limpo e Osasco), e colocar em seus lugares bispos conservadores.
A ideia era afastar bispos e padres da política e evitar que apoiassem os movimentos.

Está aí o resultado hoje: a Igreja Católica deu uma guinada à direita, se afastou das periferias (como os movimentos e partidos também se afastaram) e esse espaço foi ocupado por pastores neopentecostais conservadores, alinhados hoje ao bolsonarismo.

Dom Angélico, 92 anos, faleceu nesta terça-feira, 15 de março. Fará muita falta.

Dom Angélico é insubstituível, como dom Paulo também.

Gilberto Nascimento é jornalista 

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