Bolsonaro não privatizará a Petrobras

Por Fernando Castilho

É sempre muito difícil decifrar não só as falas, mas também os atos do presidente Jair Bolsonaro. Mas vamos a mais uma tentativa.

Descontente por ser cobrado quanto ao aumento dos combustíveis, o capitão trocou o comando da Petrobras em 28 de maio de 2021. Saiu Roberto Castello Branco para entrar o General Silva e Luna.

Pronto, os problemas seriam, enfim, resolvidos. A gasolina, o diesel e o gás não subiriam mais de preço e o presidente poderia voltar a praticar jetski e a fazer campanha eleitoral antecipada com dinheiro público à vontade.

Mas Luna e Silva foi mais do mesmo. Com um salário de 223 mil reais por mês, foi informado pelo pessoal de carreira que deixar de aplicar os reajustes fere o estatuto da companhia e alterá-lo daria muita dor de cabeça, por isso, tratou de repassar todos os aumentos internacionais do barril tipo Brent para o povo brasileiro e desfrutar da vida.

Foi mais de um ano assim. E pelos ótimos serviços prestados aos acionistas, muitos deles estrangeiros, ainda recebeu um bônus de 1,3 milhão de reais.

Novamente cobrado pela população, Bolsonaro agora volta a terceirizar o problema trocando de novo o comando da empresa.

Agora entra em campo Adriano Pires, diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria que assessora empresas e associações do setor de energia. Percebe-se, pela sua função, que uma raposa foi colocada para tomar conta do galinheiro, pois, vai poder repassar informações privilegiadas às empresas que assessora.

O argumento de Bolsonaro para nomear o consultor que é figurinha carimbada no Jornal Nacional, onde costuma emitir suas opiniões sobre a politica de preços da Petrobras, é de que, caso seja reeleito, ficará com Adriano a tarefa de privatizar a companhia. Seus olhos devem ter se arregalado e só viram cifrões à frente.

Essa ideia só reforça a enorme incapacidade do governo de administrar a  alta dos preços dos combustíveis. Ora, se eu não consigo resolver o problema, embora seja a autoridade máxima do país e tenha poder para isso, como não tenho a competência necessária para o cargo, a solução mais fácil é me livrar dele porque me dá muita dor de cabeça. Simples assim.

Esse discurso privatista agrada a muita gente que quer abocanhar seu quinhão no assalto aos cofres públicos, mas, ao contrário do que afirmam seus adeptos, é responsabilidade do governo nacional controlar os preços de áreas estratégicas que interferem diretamente na condição de vida da população, como os de energia e combustíveis.

Fala-se muito em incompetência da companhia e a própria mídia nos últimos anos tem se empenhado em incutir no imaginário das pessoas a ideia de que a estatal é uma bagunça onde todo mundo rouba. Porém, pesquisa feita em maio de 2018 revelou que somente 30% dos brasileiros são contrários à privatização! É por isso que, segundo o Uol, Bolsonaro teme revelar publicamente sua intenção até as eleições.

A Petrobrás possui tecnologia única para a extração de petróleo, como a desenvolvida para extração em águas super profundas, como o pré-sal. Ela gera centenas de milhares de empregos e é uma das maiores financiadoras de projetos culturais no país. Grande parte dos valores gerados por ela retornam à União, Estado e Municípios em forma de royalties. Com a privatização, esses royalties serão enviados para o grande capital internacional.

Mas, e o grande problema do qual Bolsonaro quer se desvencilhar, os repasses de preços?

Se a companhia for privatizada, não há dúvidas de que, sem nenhum controle estatal, os preços ficarão totalmente livres para subir à vontade dos acionistas, mas isso não livrará o governo de sua responsabilização.

Muita gente ganhará dinheiro enquanto o povo brasileiro  continuará a arcar com os aumentos abusivos.

Em que porta os caminhoneiros, motoristas de aplicativos e empresas de entregas baterão?

Na porta do governo. Mas o capitão, com a maior cara lavada depois de tê-la queimado pelo ministro Milton Ribeiro, dirá que não é sua responsabilidade!

O país, numa eventual greve de caminhoneiros, parará e caberá ao governo tão e somente a repressão do movimento, pois não poderá resolver o problema!

Vejam a irresponsabilidade de um homem que não tem a menor ideia do que seja governar!

Por fim, é preciso registrar a postura contemplativa dos grandes veículos de imprensa diante da notícia da troca do comando da Petrobras. Não há uma análise sequer das conseqüências da privatização da companhia. Ninguém analisa, ninguém é contrário.

Estamos nas mãos de uma mídia cúmplice do maior roubo a que este país será submetido caso Bolsonaro seja reeleito.

Precisamos lutar para que não seja!

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Criador do Blog Análise e Opinião.

As opiniões aqui expressas são de responsabilidade do autor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *