Por Ricardo Kotscho – no UOL
Qualquer investigação sobre crimes de autoria desconhecida começa pela necessidade de responder a uma singela pergunta: a quem interessava?
Para chegar aos executores e mandantes, porém, um longo caminho precisa ser percorrido para reunir testemunhos e provas irrefutáveis antes de denunciar os criminosos e evitar que eles escapem da Justiça. Sabemos disso.
No caso do atentado golpista de 8 de janeiro de 2023, que completa um ano nesta segunda-feira, com um grande ato para celebrar a vitória da democracia, reunindo os chefes dos Três Poderes no Congresso Nacional, a autoria nem é tão desconhecida. Mas, até agora, só pegaram os bagrinhos que produziram provas a granel contra eles mesmos.
Para pacificar o país, falta apontar quem foram os mentores e mandantes do maior crime praticado contra a democracia brasileira neste século. Os peixes grandes, civis e militares, continuam soltos por aí, renovando diariamente suas ameaças às instituições e prometendo voltar em 2026 para completar o serviço.
A quem interessava derrubar, na primeira semana, o presidente Lula, recém-empossado numa grande festa popular? Nem é preciso ser um grande Sherlock para chegar a eles: são aqueles que perderam as eleições de 2022 e não aceitaram o resultado das urnas até hoje, responderia qualquer investigador principiante.
Basta pegar o que eles disseram e fizeram, durante e depois da campanha eleitoral, para instigar seus seguidores contra o sistema eleitoral e promover uma insurreição em caso de derrota.
As gravíssimas revelações feitas nesta semana, em várias entrevistas, pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE e responsável pelo processo do 8/1, sobre o atentado que estava sendo planejado contra ele em caso de vitória do golpe, não deixa mais qualquer dúvida sobre a motivação dos golpistas e as barbaridades que eles fariam, no caso de o golpe ter sido concretizado.
Queriam, apenas, sequestrá-lo e enforcá-lo, para depois fechar os tribunais e instaurar uma nova ditadura. “Não foi baderna. Foi golpe”, resumiu Moraes nas entrevistas. Ele não diria isso se a Polícia Federal já não tivesse reunido pistas e provas para chegar aos mandantes, que continuam leves e fagueiros, soltos por aí, como fantasmas de um tempo sombrio que se recusa a sair de cena.
Se todos hoje reconhecem em Alexandre de Moraes um esteio para a preservação da democracia, resta a ele agora levar o processo até o fim, o mais breve possível, levando a julgamento os chamados “autores intelectuais” dos crimes de 8 de Janeiro, uma data que jamais poderá ser esquecida para que nunca mais esta história se repita.
Nos Estados Unidos, as autoridades levaram dois anos e oito meses para tornar Donald Trump réu no processo sobre a invasão do Capitólio, em 2021, como lembrou Bruno Boghossian, em sua coluna “As elites do golpe“, na Folha.
Esperamos que aqui leve menos tempo, porque o Brasil precisa de paz e união para consertar os estragos do tsunami bolsonarista, que rachou a nação e deixou sequelas por toda parte. Urge tirar de circulação os principais responsáveis por colocar em risco nossa jovem democracia, duramente reconquistada nem faz tanto tempo.
Do que escapamos!
Vida que segue.