Por Simão Zygband
Enquanto parte da esquerda empenha suas energias na questão da Palestina, preocupada com um conflito que ocorre há mais de 10 mil km de distância do Brasil, o presidente Lula queima suas pestanas para construir uma alternativa que faça com que a esquerda, alimentada pela frente antifascista, volte a governar a mais “influencer” cidade brasileira que é São Paulo.
Lula parece ter gostado tanto da “esdrúxula” experiência de ter um adversário como candidato a vice-presidente em sua chapa, o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que foi o primeiro petista a perdoar de forma mais do que veemente a transfuga (para se dizer o mínimo) ex-prefeita Marta Suplicy, a trazendo de volta para o PT e a transformando na candidata a vice-prefeita de Guilherme Boulos, este do PSOL.
Óbvio que a presença de Marta na chapa de Boulos cria ruídos tanto em setores do PT como no PSOL. Eu mesmo defendia a tese de que o candidato psolista deveria migrar para o PT e o PSOL teria a vaga de vice, onde teria mais quadros femininos para contemplar a indicação.
Mas o próprio Boulos, fiel a seus princípios, viu por bem permanecer no partido que o evidenciou. Assim, sem nomes de mulheres fortes para se candidatar a vice, viu por bem o presidente Lula dar o seu perdão à Marta Suplicy e trazê-la de volta aos quadros do PT.
Trata-se de uma estratégia vitoriosa? Só o tempo dirá. Não existe eleição ganha de véspera. Mas será uma chapa tonificada novamente pelo diferente, como foi a mistura vitoriosa de Lula com Chuchu, tão bem articulada pelos ministros Fernando Haddad e Márcio França, autores intelectuais do literal voto Frankenstein.
O presidente Lula, agora incensado pelo deputado federal petista Rui Falcão, ex-secretário de Governo na gestão Marta Suplicy, é agora um dos padrinhos da vinda da ex-prefeita para a chapa de Boulos. Também está à frente do perdão à senadora que rompeu para apoiar o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff e bandear para o partido do golpista Michel Temer, o MDB.
Mas nada como um remedinho à base de Lula para curar feridas. Se o próprio presidente, do alto de sua autoridade, é o primeiro a estender a mão amiga a um antigo e importante quadro partidário, – que evidentemente falhou ao apoiar o golpe, chamar o PT de corrupto e considerar Fernando Haddad como o pior prefeito de São Paulo, qual petista não terá a mesmo leitura que a maior liderança da esquerda na América Latina e com gigantesca projeção internacional e aceitá-la como candidata à vice-prefeita? Tenho certeza que Marta já deve ter feito a tão inevitável mea culpa.
Enfim, é o que temos para derrotar o bolsonarismo em São Paulo.
Simão Zygband é jornalista, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas. Trabalhou no governo da ex-prefeita Marta Suplicy