Construir Resistência
Marcus

O salve-se quem puder e a crise de identidade dos cidadãos

Por Simão Zygband

“Vais ter de votar sim em mandar-te de volta para a tua terra?”, perguntou um eleitor português se referindo à postura do partido Chega, pelo qual foi eleito Marcus Santos em Portugal, em relação aos imigrantes.

Marcus
Marcus Santos, eleito em Portugal por um partido xenófobo

 

É evidente que as eleições em Portugal, com a vitória da direita com crescimento vertiginoso da extrema-direita (quadruplicou o número de deputados), mostram que os conservadores, especialmente extremistas como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Javier Milei, encontram eco na sociedade e angariam apoiadores com discursos autoritários, misóginos, xenófobos, preconceituosos, discriminatórios, racistas, que vai se espalhando ao redor do mundo.

É, como dizia o velho e bom Karl Marx, a crise profunda do capitalismo e a ampliação do modelo do salve-se quem puder para quem vive nele. Todo tipo de máfia e malandragem atua no cotidiano do cidadão comum, que se vê apavorado com o crescimento da violência e da criminalidade, enquanto os grandes especuladores enriquecem, acumulam riquezas e controlam grande parte do mercado, de diversas modalidades de negócios. Os ideais socialistas, de solidariedade e de justiça social acabam ficando cada vez mais distantes. Nos modelos que se apresentam, é cada vez mais remoto o espírito solidário, e o discurso individualista e egoísta acaba contaminando uma parcela importante da população, catequizada sobretudo pelas redes sociais.

As esquerdas não conseguem se acertar para fazer a disputa de narrativa pela internet. A direita deita de braçadas para os conceitos rígidos, de religião e costumes, que se consegue incutir na cabeça de uma parcela considerável do eleitorado, que vai se distanciando dos conceitos da justiça social com distribuição de renda defendida por lideranças como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, talvez a maior liderança popular da atualidade e referência mundial no âmbito da centro-esquerda.

O salve-se quem puder em plena decadência do capitalismo gera crises de identidade nos cidadãos de uma forma geral, a ponto dele negar a si próprio, como é o caso do brasileiro preto Marcus Santos, eleito deputado pelo Chega, partido de extrema direita de Portugal, uma agremiação racista e xenófoba, que diz “defender a família, a pátria e a propriedade”.

Marcus vive há mais de dez anos em Portugal, onde constituiu família. Ele é casado e tem um filho, ambos portugueses. “Lá em casa eu também defendo primeiro os portugueses! Aliás, por estes dois portugueses eu dou a minha vida. Deus pátria e família”, escreveu Marcus em sua publicação.

Em sua postagem em comemoração ao resultado, Marcus declarou: “Agora não tem jeito… A extrema esquerda racista, fascista e a comunicação social mentirosa vão ter que levar com o negão do Chega. Viva Portugal”. Em resposta, alguns eleitores portugueses demonstraram repúdio pela eleição dele e debocharam do fato de Santos ser brasileiro. “Vais ter de votar sim em mandar-te de volta para a tua terra?”, perguntou um usuário, se referindo à postura do partido Chega em relação aos imigrantes.

Nem Freud explica.

 

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Simão Zygband é jornalista em São Paulo, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas. Fez campanha eleitorais televisivas, impressas e virtuais, a maioria vitoriosas.

 

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