Paulo Vanzolini, 100 anos 

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Por Tom Cardoso

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Não cantava, não tinha ritmo, não sabia a diferença entre tom menor e tom maior, não tocava pandeiro, muito menos tamborim, nunca usava a palavra “malandro” em suas canções, era formado em Harvard (em zoologia!) e, mesmo assim, é considerado um dos maiores compositores de samba de São Paulo.

Nem ele sabia explicar a razão do fenômeno, mas suspeito que o distanciamento, o descompromisso com os clichês do gênero, é que o faziam ser tão original, além, claro, da notável capacidade de narrar o cotidiano urbano da São Paulo dos anos 1940 e 1950.

Entrevistei Vanzolini três vezes. Todas no mesmo lugar: num porão no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
Sempre imundo, cheirando a éter.

O Hemingway do Ipiranga.

O mau humor era o seu maior charme. E a autoderrisão.
Achava “Ronda”, a sua música mais conhecida, uma grande porcaria.

“Como é que pode uma música que fala de uma mulher ciumenta que procura o amante para matá-lo num boteco fedorento pode ser considerada um hino de São Paulo?

É um hino justamente por isso.

Não fode, Vanzolini.

Tom Cardoso é jornalista e escritor 

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