Construir Resistência
Foto: Divulgação

Marie Kondo no cinema – A ordem na casa

Por Beatriz Herkenhoff

Na crônica “O desapego abre novos horizontes e possibilidades” falo da minha experiência de organização tendo como referência o livro de #MarieKondo: A mágica da arrumação – a arte japonesa de colocar ordem na sua casa e na sua vida” (2015). Ela é especialista em organização pessoal e quando eu aposentei, utilizei seu método para tornar meu apartamento mais organizado.

Aprendi a descartar tudo que não trazia felicidade. E, naquele período, senti uma energia de amor circulando com mais intensidade.

A #Netflix lançou duas séries com Merie Kondo:  “Ordem na casa” (2019) e “A magia do dia a dia” (2021). Estou gostando muito e optei por fazer a resenha dessa série.

É um tema atual, pois, estamos confinados em nossas casas. O espaço fica diminuto com os pais trabalhando home office e os filhos estudando on line (até recentemente).

Por isso, somos convidados a conversar em família sobre os sentimentos, as dificuldades, os conflitos que surgem com mais intensidade em tempos de pandemia. Envolver todos numa proposta de arrumação pode ser uma forma construtiva de dialogo.

Não quero idealizar a fórmula oferecida por Marie Kondo, nem ter um olhar ingênuo sobre a mensagem subliminar expressa na série de que todos os problemas são solucionados com a arrumação da casa. Considero que a bagunça nem sempre é a causa dos nossos problemas. Muitas vezes a bagunça é a ponta de iceberg de questões psíquicas e emocionais não resolvidas. Um sintoma que precisa ser tratado com ajuda profissional.

Cada um tem suas razões para acumular, para ser desorganizado, para morar num ambiente bagunçado. A nossa casa é a expressão do nosso ser. Nela está contida nossa história pessoal e familiar. Memórias afetivas que trazem à tona momentos alegres, mas, também de dor. Por isso, quando eu me abro para fazer uma limpeza geral, deixando apenas coisas que me dão alegria e prazer, naturalmente eu coloco o dedo em minhas feridas, nas carências e nos vazios existenciais que me levam a comprar mais do que preciso.

Nesse sentido, o método Marie Kondo é um recurso potente. Desde que cada um busque outras estratégias para curar questões mais profundas. Caso contrário, em pouco tempo, a bagunça volta a reinar.

Em cada episódio Marie Kondo visita uma casa. Cada uma com suas demandas: filhos pequenos que interferem na relação do casal. Mãe solteira que criou três filhos e não consegue cuidar de si, pensar em suas prioridades. Mulher que ficou viúva após casamente de 40 anos e precisa se desapegar dos pertences do esposo para recomeçar a viver. Casal homoafetivo, que quer organizar a casa para receber os pais. Membros de uma igreja que precisam se organizar para otimizar o trabalho humanitário.

Somos transportados para inúmeras histórias. Marie Kondo nos envolve com sua sensibilidade, alegria, simpatia, empatia, capacidade de acolher, de ouvir, de respeitar o processo de cada um.

Ao assistir a série, eu e minha mãe nos sentimos motivadas a arrumar a casa (cada uma tem sua própria casa), identificar roupas, livros, utensílios de cozinha, lembranças de viagens, fotografias, lembranças afetivas que não precisam estar mais ali. Sempre com a pergunta chave: esse objeto me traz felicidade?

Um processo bem diferente de quando li o livro. Um filme é mais marcante pelas imagens. Possibilita observar o processo de cada um nos episódios, E nesse momento, foi motivador e estimulante para que eu voltasse a fazer novos movimentos de arrumação da casa.

Estou sentindo alegria e prazer com as mudanças que estou imprimindo em meu apartamento. Paralelamente, mergulho no meu Eu para identificar as mudanças internas que também preciso realizar.

É linda a forma como Marie saúda cada casa. Como se conecta com a energia da casa antes de iniciar o processo. Lindo como está atenta aos bloqueios de cada um, como observa os sentimentos que veem à tona e permite que sejam expressos.

Na organização da casa não acontece um processo mecânico, automático e frio. Pelo contrário, as pessoas choram, se emocionam, mergulham em suas dores, e saem renovadas.

#AlisonWillmore faz uma crítica pesada em relação ao método. Considera que a mensagem expressa na série é que “se você se organizar o suficiente, esvaziar aquela gaveta de lixo e limpar aquela garagem, problemas pessoais muito maiores e mais persistentes podem ser resolvidos durante o processo”. Ela complementa dizendo que é difícil acreditar que a organização de uma casa seja capaz de lidar com as ansiedades e velhas feridas.

Eu concordo com a premissa, a organização de uma casa pode não curar velhas feridas, mas, se estamos abertos, pode nos mover para buscar ajudas complementares. Para mim, o método #Konmari possibilitou ótimos resultados. Em tempos de #pandemia, com tantas dores acumuladas, com tantos processos pendentes, canalizar nossa energia também para esse objetivo é interessante.

Confira e depois me diga o que achou. Não precisamos de consensos, mas, de pensar a realidade por diferentes ângulos.

 

Ordem na casa (2019)

 

A magia do dia a dia (2021)

Imagens: Divulgação

 

Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Cinéfila.

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