Dólar dispara. Bolsas despencam. Miriam Leitão pira. Louca pra ver a coluna do Merdal Pereira amanhã. Jornalistas da Globo News gaguejam, tropeçam nas palavras, atônitos. É gostoso ver os empregados da maior organização midiática do país dando nó em pingo d’água para explicar pro povo que todo o processo de demonização do PT e as mentiras contadas sobre Lula não passaram de manobras para tirar o ex-presidente da cena política e eleger alguém comprometido com a (des)ordem neoliberal e privatista. O negócio era tirar Lula do jogo.
Classe média e elite elegeram Bolsonaro seduzidos pelos heróis que passaram a cultuar: o caçador de corruptos personificado pelo juizeco de Curitiba (não tomaram vergonha depois da farsa Collor) e o Posto Ipiranga, sumidade da Escola de Chicago, leitor voraz de clássicos ‘no original’ que se notabilizou por prometer reformas, privatizações, avançar nos direitos dos trabalhadores, garantindo sempre lucros para rentistas e felicidade para os ‘farialimers’ da vida. Votar no Capitão ou anular o voto como confessou, envergonhado, Fernando Henrique Cardoso, só tinha um objetivo: tirar Lula ou seu Poste (como apelidaram Haddad) do jogo.
A verdade é que ali nunca ninguém quis combater a corrupção, tampouco se importaram com as grosserias e o despreparo do capitão. Bolsonaro apenas encarnou a esperança dos parasitas a quem serve, gente cujos interesses há muito tempo são defendidos pela mídia hegemônica. Essa mesma mídia que hoje faz questão de frisar que a decisão de Fachin foi causada por um erro processual, já que Lula não poderia ter sido julgado em Curitiba, mas agora será submetido à justiça federal. Ou seja, ainda paira no ar a esperança dessa gente de tirar Lula do jogo.
A anulação dos processos contaminados pela parcialidade do juizeco, de certa forma, já era esperada, mas a elegibilidade restaurada do ex-presidente causou surpresa aos centristas de plantão. A PGR já se movimenta para entrar com recursos, tentar anular as decisões do ministro do STF. Tudo aparelhado, tudo dominado, como se costuma dizer. A corrupção continua nas rachadinhas e compra de imóveis milionários, mas nada disso importa, desde que se consiga tirar Lula do jogo.
Quanta covardia fizeram com o artilheiro do campeonato, aquele que saiu do governo com mais de 80% de popularidade, diminuiu a fome dos brasileiros pobres, possibilitou o ingresso no ensino superior de jovens da periferia que nunca sonharam em ser doutores, estimulou a pesquisa e a produção de conhecimento nas universidades, lutou pelos direitos humanos, prestigiou as mulheres, respeitou as Forças Armadas e as instituições democráticas. Mas era preciso tirar Lula de jogo.
Para isso utilizaram-se de manobras, ardis, trapaças, conduziram coercitivamente às seis da manhã um ex-presidente que nunca se negou a depor, interceptaram ligações telefônicas contrariando portarias emitidas por eles próprios, aceitaram falsas delações, inventaram depoimentos que não existiram. No fim, diante das evidências mostradas pelo Intercept, repetiam à exaustão que aquelas provas não deveriam ser levadas em conta porque teriam sido obtidas por meios ilegais. E tudo pra tirar Lula do jogo.
Que coisa boa de ver, que dia abençoado, verdadeiro presente para as mulheres brasileiras que lutam em defesa de seus corpos, de sua vida, de seus filhos, de seus destinos. Lula está de volta ao jogo. E vencer de virada é mais gostoso.