Por Eduardo de Azeredo Costa
1 – Já representei o PDT em debates e junto ao TSE sobre a questão da metodologia das pesquisas de opinião. Não quero revestir-me de autoridade ao contar que como médico-epidemiologista sou afeito à estatística. Minha tese de doutorado na Universidade de Londres se baseou em estudo por amostragem da população do Estado do RGS e fui professor titular desta disciplina em cursos pós-graduados avançados. Nada, no entanto, me abona na parte de informática da qual sei apenas o trivial.
2 – Ciente das fraquezas metodológicas e mistificações dos estudos eleitorais de opinião e de suas vantagens em algumas situações, eu podia entender o desencontro das pesquisas publicadas, e lamentar que em muitos anos, esta foi a primeira vez que não foi realizada a pesquisa de boca de urna durante a votação. No entanto, os resultados das intenções de voto à noite da véspera, eram todos próximos de valores de 50% (+ ou – 3%) para Lula e 37% (+ ou – 3%) para Bolsonaro. Na apuração oficial não houve diferença palpável na proporção de votos de Lula previstos, mas a votação de Bolsonaro foi 16% maior do que a estimada. Muito estranho, mas não impossível.
3 – Várias hipóteses foram levantadas para explicar este “erro” das pesquisas. Todas com algum grau de plausibilidade, mas sem uma evidência comprovável. E assim permanecerá. E este é o maior problema. Como diria alguém do Ministério Público – os indícios dos ilícitos estão aí para serem investigados. A não ser que seja proibido na base de acordos, como aparentemente acontece nos últimos anos no Brasil.
4 – Não foram surpreendentes alguns dos demais resultados para os cargos majoritários e alguns que conferem fórum especial? Exatamente os nomes mais comprometidos com as leviandades cometidas por este governo serem eleitos em primeiro turno? Ora, eu sei que os votos de cabresto evangélicos ou das “milicias” poderiam ser de última hora. Mas o alcance das milicias é mais restrito. Sobre as “igrejas” uma orquestração nacional não parece possível e seria crime eleitoral, já que não são partidos. Esses votos dos substitutos dos antigos coronéis devem ser proibidos. Aliás, não ouvi uma campanha direta do TSE dizendo que isto é crime e, pior, estimulando a “cola”, em nome da velocidade do voto.
5 – Brizola, que o dito popular diz que faz falta, não se deixaria enganar. Aprendemos, em 1982, como é o modo mais simples de fraudar uma apuração eletrônica. Independente de como os votos são depositados na urna ou contados é necessária uma totalização. Estas desde a década de 1980, pelo menos, são eletrônicas devido aos seus grandes números e recursos técnicos disponíveis.
6 – Como o boquirroto analista da Proconsult concebeu seu plano? O programa de totalização instruiria que os votos brancos e nulos em sua maior parte, e não todos, para despistar, seriam incorporados aos votos do candidato apoiado pelo PDS. E, algo interessante, para evitar suspeitas, as urnas das áreas mais ricas seriam divulgadas primeiro pela Globo.
7 – Nestas eleições de 2022, tivemos a menor proporção de votos brancos e nulos das últimas cinco eleições, isto é, desde o começo do século. Foi de 4,4% e em todas anteriores estava entre 8 e 10%. E se um técnico (como no caso da Proconsult) tiver colocado no programa o desvio de exatamente 50% de tais votos para uma chapa em cada estado? Os votos desviados de cada estado podem ser mais sofisticadamente distribuídos para mais do que um federal ou estadual, alternadamente. O efeito matemático pode ser visto na nota ao fim*. O ambiente para evitar desconfianças já estava criado com as reclamações e ameaças bolsonaristas ao sistema eleitoral. Eis o golpe de mestre!
8 – É essa uma hipótese plausível, mas inviável, dados os controles que são usados e que têm aceitação generalizada? – Não sei. Para responder a esta questão precisamos aceitar preliminarmente que não se trata de suspeitar da “urna eletrônica”. Este expediente de rechaçar os que têm dúvidas sobre a apuração eletrônica nos moldes feitos no Brasil, confundindo as pessoas ao dizer que é voltar ao passado com a contagem manual de cédulas é diversionista. A insistência com a possibilidade de auditagem do processo pelo TSE é também grande. Entidades são definidas e cronogramas de tudo estão sendo em alguns momentos brandidos, mais do que assegurando tranquilidade. Como já ouvi, a maioria das atividades de acompanha- mento externo ao TSE são exercidas mais em confiança, e em tese, do que na prática.
9 – Afora as acusações de negacionista a quem preferir resultados auditáveis acessíveis ao entendimento de qualquer cidadão, é interessante que alguns técnicos (trata-se de técnica e não de ciência) acreditam que não sendo os votos transmitidos pela internet geral então não é hackeável! Relato de um presidente do TSE afirma que houve interferência momentânea no processo de totalização em outra eleição recente, mas rechaçada, o que derruba este argumento. De outro lado há relatos de que foi possível em testes fazer o hackeamento, mas que, por complexo, leva mais tempo do que dura a apuração.
10 – Objetivamente o ponto mais crítico, por suas consequências poderem ser massivas ou sistemáticas é o que o programa de totalização é banal e facilmente alterável. A barreira para que isto aconteça, ou que o conheçamos, chamam de criptografia, ou seja, um código-chave para poder acessá-lo. Para questões de segurança nacional, como é uma eleição presidencial, em que os bens de um país podem ser facilmente transferidos para outros, ou como para lançar ogivas nucleares, como nos filmes, ele deve estar na mão institucional de um órgão de defesa nacional submisso à constituição do país. Quem o tem? O TSE, a ABIN? Não sei, mas há uma pessoa e uma vontade institucional envolvidas. Quem não pode ficar de fora, no entanto, diferente de outras questões estratégicas, é o povo que constitui a nação, pois neste particular é a ele assegurada a não-representividade. O voto é um ato pessoal e intransferível. E todas as instâncias estão a serviço deste direito.
11 – Perante todos estes questionamentos não é possível que uma nação não faça disponível a sua sociedade um modo paciente de acompanhar os resultados eleitorais. O processo rápido que a imprensa elogia é uma arma contra seu controle eficiente. A impressão dos votos e seu depósito em urna, poderia, no mínimo, acabar com a desconfiança reinante. Não é o poder institucional ou sua repetição midiática que convence as pessoas. É preciso que elas sintam que há uma vontade de tornar íntegro o resultado da soma de todas as vontades de igual direito, aproximar o cidadão deste processo, segundo suas possibilidades materiais ou intelectuais.
12 – Ante todas as agressivas falas dos defensores de Bolsonaro contra as eleições, inclusive a de manifestar no exterior recentemente que se não tivesse 60% dos votos estaria havendo fraude, surpreendeu a inesperada tranquilidade dos últimos três dias na cúpula da campanha bolsonarista.
13– Por fim, assim como creio que o TSE tem crédito, mas pode não ter ciência de tudo, me é impossível acreditar que o Brasil tenha a cara que esta eleição mostrou. Há algo de estranho no ar! Muito estranho! E o pesadelo é que se repita no 2o. Turno.
14 – Olho vivo (ATENÇÃO FISCAIS DA COLIGAÇÃO DE LULA) e vamos à luta por Lula e pelo Brasil! Vamos ampliar a frente ampla contra a barbárie, o crime organizado, a fome, o desemprego e a morte da cultura de paz brasileira.
*Nota: Estimei o efeito dos votos para presidente se 50% dos votos brancos e nulos tiverem sido desviados para Bolsonaro. Esse valor é o da diminuição que teve desses tipos de votos inválidos na eleição atual comparada com as 5 eleições anteriores deste século. Em número de eleitores correspondeu a 5.412.653 (4,4%). A votação apurada de Lula foi de 57. 259. 504 (48,3% dos votos válidos) e a de Bolsonaro 51.072.345 (43,3% dos votos válidos). Se diminuirmos os brancos e nulos que hipoteticamente foram transferidos para Bolsonaro, sua votação real teria sido de 45.659.692 votos.
Como ficariam em termos de percentagem de votos válidos a proporção de votos para Lula e Bolsonaro?
O número total de votos válidos seria diminuído de 118.229.719 para 112.817.066. Aparte de Lula passaria a ser 57.259.504 X 100 / 112.817.066 = 50,75% dos votos válidos e de Bolsonaro ficaria com 45.659.692 X 100 / 112.817.066 = 40,47%. Lula teria sido eleito no primeiro turno e os institutos de pesquisa teriam seus erros dentro da margem admitida.
COMENTÁRIO FINAL: ESTA É APENAS UM SIMULAÇÃO AINDA QUE USE DADOS REAIS.
PS – Não surpreendeu os resultados da pesquisa imediata após as eleições, antes de acordos, do IPC: Lula 51% e Bolsonaro 43%! EAC
Eduardo de Azeredo Costa é médico epidemiologista. PhD pela Universidade de Londres. Professor titular da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. Membro do Comitê Central do PCdoB.