Por Ademir Assunção

Nunca gostei de Aldo Rebelo. Não tenho a menor confiança neste cara. E faz décadas.
Lembro até hoje, nitidamente, de um fato ocorrido em 1980. Eu era da diretoria do DCE Livre da Universidade Estadual de Londrina. Ele era presidente da UNE, já filiado ao PCdoB (hoje não é mais), estalinista de carteirinha.
A sede do DCE Livre ficava no centro de Londrina, na esquina da rua Hugo Cabral com a Piauí. Volta e meia, alguns bebuns, moradores de rua, passavam por lá para pedir uns trocados. Conversávamos com eles. Como todo bêbado, às vezes nos enchiam o saco, folgavam, mas os tratávamos bem. Brincávamos que eram nossos bebuns de estimação.
Pois bem: um belo dia, Aldo Rebelo, presidente da UNE, foi à Londrina para uma reunião dos estudantes da região sul do país. Um de nossos bebuns de estimação apareceu por lá, antes da reunião, e queria porque queria uns trocados para tomar suas canjibrinas.
Aldo Rebelo o expulsou quase aos pontapés. Eu vi a cena e com minha impetuosidade de “jovem revolucionário”, como me pensava na época, o questionei:
– Caramba, você quer fazer revolução tratando o povo desse jeito?
Ele respondeu:
– Esse cara não é povo. É lumpen.
Não pensei duas vezes. Retruquei:
– Esse cara é gente.
Nunca esqueci esse fato. Por isso, não me surpreende que o ex-comunista do PCdoB hoje mande beijos e bombons ao que há de mais retrógrado entre os humanos: o bolsonarismo.
Ademir Assunção é jornalista, compositor e escritor.
Nota do editor: Aldo Rebelo tornou-se secretário municipal de Ricardo Nunes no lugar de Marta Suplicy, a vice de Guilherme Boulos