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Mãe Bernadete

Comoção e revolta no enterro de Mãe Bernadete

Da Afropress

Em clima de comoção e revolta foi enterrada neste sábado (19), no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, o corpo da Mãe de Santo Maria Bernadete Pacífico Moreira. A líder quilombola é a 11ª a ser morta na Bahia  nos últimos 10 anos e foi velada, sexta-feira (18), no Quilombo Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filhões, região metropolitana de Salvador. Mãe Bernadete, como era conhecida, foi morta com 12 tiros na cabeça na presença dos netos, na noite de quinta-feira (17).

Um grupo invadiu a casa em que ela morava e fez reféns parentes e netos. A execução tem todas as características de crime de mando e, segundo lideranças quilombolas baianas, está relacionada à atuação da líder religiosa em defesa das terras que ocupava.

O enterro aconteceu no mesmo cemitério em que o filho de Mãe Bernadete – Fabio Gabriel Pacifico dos Santos, o Binho do Quilombo – foi assassinado por homens armados, em 2.017. Desde a morte do filho, Mãe Bernadete lutava pela prisão dos responsáveis.

AMEAÇAS

Em julho passado, em reunião com a presidente do Supremo Tribunal federal (STF), Rosa Weber, Mãe Bernadete denunciou as ameaças que ela e os moradores do quilombo sofriam, possivelmente do mesmo grupo criminoso que matou o filho. A reunião com a ministra aconteceu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, município também da região metropolitana de Salvador.

“Não posso sair, minha casa é toda cercada de câmeras”, disse Bernadete no encontro com a ministra, que ontem lembrou da conversa que tiveram. “Mãe Bernardete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos, e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas”, disse a ministra, por meio de nota.

JUSTIÇA

Desde a data do crime, a líder quilombola lutava para que os responsáveis pelo homicídio fossem presos. O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União encaminharam ofício a Presidência da República e ao Governo da Bahia, pedindo medidas de proteção aos territórios quilombolas no Estado. Além disso, pediram a criação de uma unidade de investigação especializada em casos relacionados a povos tradicionais.  O assassinato da líder quilombola será investigação por uma força tarefa, por decisão da delegada geral da Polícia Civil da Bahia, Heloisa Campos de Brito.

Há dois anos, Mãe Bernadete estava sob proteção da Polícia Militar, por meio da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia. A líder fazia parte do Programa de de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal, executado na Bahia pela Secretaria de Justiça, desde 2017.

QUEM É

Mãe Bernadete foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho, na gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD), entre 2009 e 2016. Em 2017, ela recebeu o título de cidadã do município, concedido pela Câmara de Vereadores. Atualmente, estava à frente da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), uma das entidades de maior prestígio entre os quilombolas no país. A ialorixá (Mãe de Santoãe na Umbanda) também era conhecida pela defesa da cultura popular quilombola.

A Conaq publicou uma nota de pesar pela morte de Mãe Bernadete. Segundo a entidade, ela era uma “pessoa sábia”, “uma verdadeira liderança” e que trata-se de uma “perda irreparável” para todo o movimento de defesa dos direitos humanos. “Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização”, frisa a nota da Conaq.

Veja matéria:

https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2023/08/18/assassinato-de-mae-bernadete-corpo-de-quilombola-morta-a-tiros-e-velado-na-bahia.ghtml

A Prefeitura de Simões Filho repudiou “toda violência que atinge sistematicamente a sociedade, ao tempo em que aguardamos das forças policiais a responsabilização daqueles envolvidos nesse ato de crueldade”.

O governador Jerônimo Rodrigues cobrou firmeza nas investigações. “Estamos, cada vez mais, fazendo cerco aos grupos criminosos. Nossa ordem é de proteção à vida, independentemente de quem seja, do povo baiano, e do povo que vem visitar a gente. A nossa polícia não vai sair da rua”, garantiu.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva presidente também lamentou a morte da líder quilombola. “Com pesar e preocupação soube do assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada a tiros”, publicou. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, enviou uma comitiva ao local para participar das investigações do assassinato.

Para Wellington Santos, outro filho de Mãe Bernadete, a omissão da Justiça no caso de Binho teria estimulado os assassinos a se vingarem de sua mãe. “Costumo dizer que quando você não resolve um problema, você ocasiona outro. Se tivesse elucidado o assassinato do meu irmão, em 2017, certamente isso (o assassinato de Mãe Bernadete) não ocorreria. Mas eles ficaram impunes e se acharam no direito de fazer de novo”, afirmou.

Com informações: dos portais G1, Uol, Correio Braziliense

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