Por Eric Nepomuceno – Página 12 – Argentina
Finalmente, e depois de 25 longos anos, na última sexta-feira, 6 de dezembro, o Mercosul e a União Europeia chegaram a um acordo amplo e sólido. A previsão agora é que em no máximo vinte e quatro meses – ou seja, dois anos – os pontos do acordo já estejam em vigor.
No Brasil diz-se que é “o maior acordo do mundo”. Mesmo deixando de lado a tendência habitual dos brasileiros ao exagero, é inevitável destacar a imensa importância do que foi alcançado.
E por que atribuir grande parte do sucesso das negociações a Lula? Por várias razões sólidas.
Em primeiro lugar, porque em nenhum momento deixou de colocar todos os seus esforços para alcançar o sucesso que agora foi alcançado.
E também porque ao longo desses vinte e cinco anos presidiu o maior, mais populoso e mais rico país do Mercosul durante dez: oito nos seus dois primeiros mandatos, e agora está a meio do segundo.
Além disso, teve sua sucessora, Dilma Rousseff, do mesmo Partido dos Trabalhadores (PT), presidindo outros seis: quatro do primeiro mandato e dois do segundo, até ser defenestrada por um golpe.
É surpreendente que o jornal matutino conservador do Rio de Janeiro O Globo , que nem por um minuto nutriu sequer vestígios de admiração por Lula da Silva e seus governos, tenha descrito o acordo como um “momento histórico”.
Nunca será demais reiterar que o anúncio, feito em Montevidéu, durante encontro na capital uruguaia entre os dois grupos, Mercosul e União Europeia, atinge cerca de 700 milhões de pessoas e reúne um Produto Interno Bruto (PIB) que juntos ultrapassam vinte e dois bilhões de dólares. Isso é algo próximo a 25% do PIB global.
Ursula von der Leier, presidente da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, não escondeu a satisfação com o resultado.
Já o presidente argentino de extrema-direita, Javier Milei, apesar de ter assinado o acordo, insistiu nas suas críticas. No mesmo dia em que assumiu a presidência do grupo – foi a vez da Argentina durante um semestre – disse que o Mercosul é “uma prisão”, e depois passou a desfilar uma longa lista de “fracassos” que, na sua opinião, o bloco sofre. E em nenhum momento escondeu a sua verdadeira intenção, que é negociar acordos bilaterais com os Estados Unidos, principalmente agora, quando o seu amigo e inspiração Donald Trump assumirá a presidência do país mais poderoso do mundo.
As regras do Mercosul impedem acordos que não reúnam os quatro, ou seja, nenhum país pode, isoladamente, atuar nesse sentido.
O Brasil seguirá rigoroso para que se cumpra tudo o que está previsto como regra inegociável dentro do Mercosul. Portanto, são esperados momentos de tensão com Milei.
E ninguém no governo nutre a menor esperança de que haja progresso nas áreas sociais, nos direitos humanos e na proteção ambiental, questões que provocam uma forte reação alérgica nos argentinos.
A principal expectativa está relacionada ao que Milei tentará fazer. E como Trump tratará o bloco, onde abriga – embora sem qualquer conforto – aquele que talvez seja o seu mais fervoroso fã fora dos Estados Unidos.
Eric Nepomuceno é escritor, jornalista e tradutor brasileiro.