Nota da Comissão Arns
Na segunda-feira passada, 18 de julho, Jair Bolsonaro deu um passo adiante na montagem golpista que anunciou quatro anos atrás. Teve o desplante de encenar para cerca de quarenta embaixadores convocados ao Palácio da Alvorada o costumeiro show de mentiras a respeito do sistema brasileiro de votação e da brava conduta assumida por ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no intuito de garantir o seu pleno funcionamento. O objetivo do presidente era nítido: preparar o ambiente internacional para a manobra de negar o reconhecimento dos resultados da eleição de outubro, os quais, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, tendem a desfavorecê-lo.
Ainda que o tiro possa ter saído pela culatra, pois os segmentos lúcidos da opinião pública do mundo perceberam e repudiaram a manobra, é necessário reiterar a flagrante falsidade das afirmações presidenciais. Em uso no país desde 1996, sem qualquer registro de fraude, o método eletrônico de votação tem se mostrado rápido e seguro. Conforme manifestação da embaixada de uma das nações que assistiram ao triste espetáculo palaciano, trata-se, na realidade, de um modelo mundial.
Há, porém, um detalhe assustador na pantomima executada pelo primeiro mandatário, de resto inócua. Trata-se da insistência com que, lembrando a condição constitucional de chefe das Forças Armadas, acusou o TSE de alijar os militares do debate sobre o sistema de votação, como se o assunto lhes dissesse respeito. A insistência no tema, quatro dias após o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, ter levado ao Senado uma absurda proposta de apuração paralela, denota um concerto de iniciativas que merece deixar a cidadania em cabível alerta.
Assim, a Comissão Arns, interpretando o sentimento de indignação que percorre a sociedade civil e entendendo ser dever de todos participar das iniciativas em defesa da democracia, vem a público afirmar: chegou hora de reagir!
É necessário que um amplo movimento, representando a vasta maioria dos brasileiros que optaram pela democracia, mostre quão isolados se encontram os que ameaçam a liberdade e o Estado de Direito. Por isso, unimos nossa voz, de defensores dos direitos humanos, aos que entendem ser melhor prevenir do que remediar, sobretudo estando em jogo valores fundamentais.
São Paulo, 21 de julho de 2022