Bola da vez

Compartilhado do Quarentena News

Por Luiz Eduardo Rezende

Os bolsonaristas imaginavam que, para marcar posição, os ministros Nunes Marques e André Mendonça, ambos nomeados no atual governo, votariam contra a condenação do deputado Daniel Silveira. Mas foram surpreendidos com a posição do ex-ministro da justiça, que condenou o parlamentar.

André Mendonça agora, junto com Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso, é inimigo declarado de Bolsonaro e seu grupo, embora tenha se justificado dizendo que como jurista e cristão não poderia aceitar ilegalidades e violência. Mesmo assim está sendo chamado de traidor, como se fosse obrigado a votar de acordo com os interesses do governo.

O presidente Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre a condenação, muito menos sobre o voto de André Mendonça. Ele afirmou que não aceitaria um resultado negativo na votação do STF. Não se sabe ainda o que quis dizer com isso na prática.* Mas parlamentares, seguidores e jornalistas que o apoiam, já estão tratando o ex-aliado, amigo da primeira-dama Michele, como inimigo.
Quem ficou mal com a população, mas ganhou pontos no grupo bolsonarista, foi o ministro Nunes Marques, o único a absolver Daniel Silveira de todas as acusações, do jeitinho que o presidente queria. Confundiu, de propósito é claro, fazer justiça com fazer política. Agradecido pela nomeação para o STF, seguiu aquele velho ditado da literatura infantil: Faremos tudo o que o mestre mandar!

*Nota da editora: O artigo foi escrito e entregue para publicação antes de ser noticiado o indulto concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira.

VICE DEBOCHADO

O vice-presidente da república, general Hamilton Mourão, achou graça na gravação divulgada pela jornalista Miriam Leitão, na qual os ministros do Superior Tribunal Militar, na época da ditadura, reconhecem a existência da tortura para obter informações e castigar presos políticos. A divulgação dessas conversas teve ampla divulgação e repúdio da sociedade, que pede uma investigação rigorosa sobre o que aconteceu realmente naquela época.

Ao ser perguntado sobre o que achava das conversas entre os ministros, o general Mourão deu um risinho debochado e emendou: “Não tem nada para investigar, já morreu todo mundo, será que vão querer tirar gente do túmulo?” O vice-presidente demonstrou desprezo total pelas vítimas das torturas e pelas famílias dos que morreram ou desapareceram.

Os militares, mesmo os que não fizeram parte do combate às organizações políticas de esquerda, se recusam até hoje a reconhecer os excessos cometidos, investigar os fatos e apontar os colegas covardes que torturaram e mataram pessoas que eram contra a ditadura implantada no país em 1964 e que se tornou ainda mais violenta com a edição do AI-5, em 1968.

Mourão não foge à regra. Mas vai muito além. Embora se coloque sempre em oposição a Bolsonaro, defensor confesso da tortura e de torturadores, no fundo pensa igual. Apenas se manifesta de maneira diferente, mais dissimulada, querendo parecer um defensor da democracia e do estado de direito.

Mas no fundo os dois são farinha do mesmo saco.

VALE TUDO PARA SE ELEGER

O deputado Marcelo Freixo, candidato a governador do Rio de Janeiro, disse que se eleito formará o governo com pessoas “de direita, do centro e de esquerda”. Ou está mentindo para ganhar votos ou mudou muito de posição nos últimos anos. É muito estranho Freixo exaltar a direita justamente na campanha eleitoral.

Marcelo Freixo fez carreira no PSOL, um partido que nasceu da esquerda radical do PT. Foi candidato a prefeito do Rio e perdeu a eleição justamente porque foi empurrado para o gueto do radicalismo. Parece que aprendeu a lição. Agora, para disputar o governo do estado, tratou de trocar o PSOL pelo PSB, um partido muito mais palatável para o eleitor.

É claro que no PSB Marcelo Freixo teria que moderar o discurso, a não ser para combater Jair Bolsonaro. Não dava mais mesmo para seguir a linha do antigo partido, de que todo mundo está errado, só ele está no caminho certo para defender o povo. Mas daí até dizer que vai botar gente de direita se for eleito, vai uma diferença muito grande.
Cuidado Freixo. Mentira tem pernas curtas!

OPORTUNISMO CLARO

Quando começaram as negociações sobre a escolha de uma candidatura única, de centro, para representar a terceira via, Ciro Gomes não quis nem conversar. A ideia era que o escolhido fosse quem estivesse mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto. E, na época, o ex-juiz Sérgio Moro era o terceiro colocado. Ciro não admitia a hipótese de apoiar Moro na eleição.

Com Sérgio Moro fora da disputa, Ciro ocupa com folga o terceiro lugar, mas nem assim cresceu a ponto de ameaçar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Se não conseguir alcançar dois dígitos até o início oficial da campanha, sabe que sua candidatura está fadada ao fracasso. Por isso, agora bajula os partidos da terceira via em busca de apoio.

O principal alvo da campanha de Ciro Gomes é o PSD de Gilberto Kassab, que fracassou na tentativa de lançar candidato próprio, de atrair Geraldo Alckmin para ficar com o vice de Lula, e até de namorar com alguns setores do bolsonarismo. O acordo não é fácil, mas, se acontecer, o PDT ganhará mais tempo de televisão e uma verba bem maior do fundo eleitoral.

Sozinho, dificilmente Ciro Gomes pode pensar em chegar ao segundo turno. E aí o melhor é comprar logo a passagem aérea para Paris. Com antecedência é mais barato.

ACIDENTE EVITÁVEL

A beleza da passarela do samba no Rio, agora com uma impressionante iluminação cênica, contrasta com a total falta de organização na dispersão, feita pela Rua Frei Caneca, no pé do morro de São Carlos. No primeiro dia de desfiles do Grupo Ouro, uma menina de 11 anos subiu num carro alegórico, foi imprensada contra um posto e teve a perna amputada.

Um acidente? Sim, claro, mas poderia ser evitado não fosse a bagunça que impera na dispersão. Dentro do Sambódromo a segurança é feita por um grupo contratado pela Liesa. Do lado de fora cabe à Polícia Militar, que não consegue controlar as pessoas que descem do morro para ver as alegorias, vender produtos para os componentes das escolas ou mesmo para praticar furtos ou roubos.

Como pode uma criança, que deveria estar em casa às 11 da noite, sair do bar onde a mãe estava bebendo e subir numa alegoria? Ninguém viu? Ninguém impediu? Não havia isolamento? Este foi um acidente esperado. Tomara que a polícia e os organizadores dos desfiles tomem medidas para que não se repita.

Esse tipo de desleixo, além de colocar vidas em risco, depõe contra o lindo espetáculo das escolas de samba.

PRECISANDO DE MOBRAL

Como é que um sujeito que fala conje e seje passa numa prova para juiz federal? Será que o teste de português é muito elementar ou, nesse caso, não existe? Como é que um sujeito que pretendia ser presidente da república comete tantos erros políticos num espaço de tempo tão curto? Será que por arrogância não tinha, ou não ouvia, um político experiente?

Sérgio Moro é um exemplo de fracasso, como juiz, parcial segundo o STF, e como político, arriscado a não ser sequer candidato a deputado federal, tantas foram as bobagens que fez, desde que deixou a magistratura para ocupar o ministério da Justiça do governo Bolsonaro, de onde saiu brigado com o presidente.

Candidato a presidente da República pelo Podemos, Moro saiu do partido quando viu que não teria recursos ou tempo de televisão para a campanha. Não sabia disso quando se filiou? Entrou no União Brasil e foi logo descartado para a disputa da presidência. Se conformou em tentar a câmara dos deputados por São Paulo, mas seu domicílio eleitoral num hotel na capital paulista é contestado por adversários.

Em resposta a esse questionamento, Sérgio Moro, depois de dizer que tem vários títulos de cidadão honorário e medalhas concedidas por cidades paulistas, saiu-se com essa pérola: “Nasci em Maringá, cidade colonizada por paulistas”.

Se Moro procurar no Google vai ser informado do que é domicílio eleitoral. #politica #jornalismo

FOTOS

André Mendonça: ministro do STF agora é inimigo do bolsonarismo

Freixo agora quer incluir até a direita


Ciro Gomes, em meme: de olho na butique de Kassab


Sérgio Moro: suspeita de fraude no domicílio eleitoral

Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem pelo Jornal do Brasil, O Dia e O Globo.

As opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores.

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