Por Sonia Castro Lopes
Perdoem-me os otimistas, mas estamos mal. Derrotas sucessivas de pautas progressistas no Congresso como a manutenção do veto do inelegível à lei que punia as fake news, as ameaças ao fim da obrigatoriedade vacinal e à privatização das praias são alguns exemplos dos desafios a serem enfrentados pelo governo federal. Nessa luta desigual entre a civilização e a barbárie, quem perde é a população, responsável pela eleição do pior Congresso dos últimos tempos.
Manifestações populares de seguidores do ex-presidente bombam por aí. Ainda na última quinta feira (30), feriado de Corpus Christi, uma multidão de evangélicos lotou o centro da cidade de São Paulo na “Marcha para Jesus”, onde políticos oportunistas ergueram seus palanques de olho nas próximas eleições municipais e quiçá no pleito presidencial de 26.
Veja-se, por exemplo, a atitude do governador de São Paulo, Tarcísio de Freiras, provável candidato ao Planalto, que deverá aglutinar em torno de sua candidatura não só os adeptos do inelegível como boa parte dos liberais que não hesitarão em apoiar o “bolsonarista civilizado”, semente fascista que germina com a rapidez da luz.
Não por acaso, os principais veículos que representam a mídia hegemônica deram destaque na última semana a esse politico que, na referida manifestação, comportou- se como detentor de todos os atributos necessários para arrebanhar o capital político de seu padrinho político. Segundo matérias divulgadas pela imprensa “imparcial”, seu prestígio cresce em SP enquanto o de Lula derrete. Por que, apesar da queda do desemprego e da melhora nos índices da economia, o governo Lula patina e os bons
resultados não se convertem em aumento de popularidade?
Em relação às eleições para a prefeitura paulistana, temos outro grande desafio. Ainda que no início da semana a pesquisa do CNN tenha apontado uma diferença considerável nas intenções de voto entre Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) – 37% x 20% respectivamente – não vemos motivos para comemoração.
A diferença de 17 pontos percentuais já foram refutados pelo DataFolha, cujo resultado divulgado na última quarta feira (29) aponta empate entre os candidatos (24% x 23%). Na verdade, segundo o CNN, houve a inserção na disputa do “coach” Pablo Marçal (PRTB) que, de cara, abocanharia cerca de 10% do eleitorado de Nunes pulverizando o resultado.
Trata-se, a nosso ver, de uma estratégia que visa ao enfraquecimento da candidatura Boulos ou há alguma dúvida de que Marçal ( PRTB), Datena (PSDB), Kim (União Brasil), Marina Helena (Novo) e outros do mesmo naipe se apressariam em negociar seu capital eleitoral com Nunes? Num provável segundo turno, para quem irão os votos dos candidatos de oposição e parte dos eleitores de Tábata Amaral ( que de progressista só tem a sigla do partido) ao candidato apoiado por Lula?
Sabemos que muita água ainda rola sob essa ponte, mas a cilada está armada, cai quem quer.
A situação está tão complicada que parlamentares alinhados à extrema direita já articulam, sob a batuta de Carla Zambelli, uma manifestação “ Fora Lula” para o dia 9 de junho com cartazes pró-impeachment. E o campo progressista, faz o quê? Absolutamente nada, só se defende dos ataques como um time de futebol acuado, jogando na retranca para impedir a goleada.
Falta a mobilização popular que inundou as ruas no #Foratemer e #Elenao, falta coragem ao governo federal para sustentar suas pautas de forma mais enérgica, falta aproximação da militância com as bases das quais o PT se desviou e não encontra a fórmula para se reconciliar.
Há, portanto, motivos de sobra para preocupação. Sim, estamos mal na fita e, se para desgraça final, os “irmãos” do norte conseguirem eleger o criminoso Trump, vamos acabar fritos em verde e amarelo para gosto dos “patriotas” que ostentam com orgulho imbecil a camisa canarinho.
Sonia Castro Lopes é professora aposentada da UFRJ e uma das fundadoras do site Construir Resistência