Por Walter Falceta
A pesquisa do PoderData não é das mais confiáveis, feita por telefone. Ainda assim, lança um alerta, pois seus resultados exibem uma tendência replicada por outros institutos.
Lula parece ancorado nos seus quarenta por cento, com um viés de estagnação. Bolsonaro, no entanto, tem um evidente viés de alta, detectado em praticamente todas as pesquisas.
No PoderData, a distância entre um e outro ficou em somente 9 pontos. No caso do segundo turno, Lula já impôs, em janeiro, uma diferença de 22 pontos. Essa vantagem caiu para 12 pontos.
Mas o que está acontecendo, afinal? Lula já não tinha ganho essa eleição?
Começando pelo final. Não tinha sacramentado vitória, não. Longe disso. Agora, vamos às causas.
A máquina do governo é muito, muito poderosa. E, muitas vezes, faz a diferença. O presidente da República assina cheques, libera gordas verbas, oferece mimos, estabelece acordos, sussurra ameaças e promove propaganda dia e noite, com apoio explícito do Centrão.
Não é somente o Auxílio Brasil. É muito mais. É liberação dirigida de recursos para regiões estratégicas. É iniciativa casada com a vasta corja de deputados e senadores fisiológicos que formam o parlamento.
Além disso, as pesquisas mostram vantagem de Bolsonaro sobre Lula entre os mais ricos. Bem, os endinheirados são construtores de opinião pública. Eles influenciam o voto por meio de suas empresas, de suas pilantropias e, principalmente, por seus meios de comunicação, próprios ou alugados.
Conta por último o fortíssimo avanço do milicianismo digital, uma indústria de fake news e peças de deseducação política, com ênfase na moagem de reputações.
Os agentes reais ou robotizados estão em todos os redutos da Internet, nas redes sociais, nos veículos da direita e nas áreas de comentários de toda a grande imprensa corporativa. Operam lá, dia e noite, difamando Lula e exaltando o genocida.
Nós, ao contrário, confiantes na vitória, ou preguiçosos demais para o debate de campo, preferimos o conforto da concordância em nossas bolhas. Pregamos para convertidos.
Neste momento, precisamos arregaçar as mangas e trabalhar. Qualquer comentário debaixo das matérias da mídia burguesa tem importância, relevância e alcance. Tape o nariz e escreva.
É fundamental trabalhar também com quatro setores: profissionais ligados à área de segurança (pública ou privada), empreendedores de todos os tipos (do dono do supermercado ao pipoqueiro da esquina), a juventude trezista (ainda convicta de que o levante dos 20 centavos é uma referência da virtude) e, principalmente, a imensa massa de evangélicos. Atenção especial aos pentecostais.
Por fim, convém avaliar se ainda vale o fogo amigo interno em torno das coalizões com a centro-direita. Enquanto disparamos em futuros aliados prováveis, o bolsonarismo segue reconquistando eleitores.
É hora de botar o pé no chão, escolher o caminho da sensatez e, sobretudo, abrir frentes para livrar o Brasil do fascismo. Você faz toda a diferença. Lembrando: faltam pouco mais de seis meses. Outubro é logo aí.
Walter Falceta é jornalista e um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)