O grande vacilo de dois comandantes

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Por Rogério Marques –

Quarentena News 

Freire Gomes e Baptista Júnior perderam a chance de entrar bem para a História, como o general Henrique Teixeira Lott em 1955

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Ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes – Foto: Cristiano Mariz/O Globo
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Ex-Comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior – foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Existem momentos na História em que certos personagens que detêm algum tipo de poder não podem vacilar, diante de situações limite.

Em depoimentos recentes à Polícia Federal, os ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, afirmaram que tentaram demover Bolsonaro da intenção de dar um golpe de estado e impedir a posse do presidente eleito, Lula.

Menos mal, mas insuficiente. São fatos de extrema gravidade dos quais o Brasil só ficou sabendo por causa de uma investigação policial. Do contrário, permaneceriam abafados, prontos para se repetirem na próxima oportunidade, sabe-se lá quando. Manter aqueles episódios em segredo é inaceitável.

Agora, voltemos a fita da História. Vamos imaginar o seguinte:

Diante da insistência de Bolsonaro em dar o golpe, inclusive apresentando a seus ministros e aos próprios comandantes militares minutas do golpe mais tarde encontradas pela PF, Freire Gomes e Batista Júnior põem suas tropas de prontidão e convocam a imprensa para uma entrevista coletiva.

Nesta entrevista, apresentam uma cópia das minutas golpistas; denunciam a trama em detalhes; asseguram que a posse do presidente eleito será garantida, em nome da Constituição e do Estado Democrático de Direito.

E que fossem às últimas consequências, no caso a prisão de Bolsonaro, caso ele não recuasse de suas intenções golpistas, já confessadas em outras ocasiões.

Ao não agir com firmeza e transparência, os dois ex-comandantes deixaram de fazer um bem ao Brasil, como fez o general Henrique Teixeira Lott, então ministro da Guerra, ao garantir a posse de Juscelino Kubitschek e seu vice João Goulart, no contragolpe de novembro de 1955. Naquele episódio, a direita civil e militares de alta patente tentaram, primeiro, impedir as eleições, depois a posse de Juscelino e Jango.

Ao silenciar sobre os fatos graves que só vieram à tona em uma investigação policial, Freire Gomes e Baptista Júnior perderam a oportunidade de deixar claro que o Brasil não tolera mais golpes, sejam eles quais forem. Perderam, portanto, a grande chance de entrar bem para a História.

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Rogério Marques é jornalista no Rio de Janeiro

 

Nota do editor: as matérias publicadas no Construir Resistência nem sempre refletem a opinião do veículo, mas em geral sim.

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