Nem sempre é tão fácil dar um golpe de estado

Golpes fracassados
Os golpes que não deram certo na América Latina (teve também a tentativa frustrada de Donald Trump nos EUA) são raros, é verdade. Historicamente eles são bem sucedidos. Mas existem dois bastante emblemáticos ocorridos na Bolívia e na Venezuela que fracassaram. O primeiro levou à renúncia do então presidente Evo Morales, que deixou o poder após a perda de apoio da cúpula militar. Os golpistas, inclusive os militares, conseguiram conturbar o país acusando Morales  de ter fraudado a sua reeleição. O país entrou em forte turbulência política.
Com a queda de Morales, assumiu interinamente a senadora de oposição a Morales, Jeanine Áñez, que acabou sendo presa após a realização de novas eleições e a vitória e posse de Luiz Arce, do partido socialista Movimiento al Socialismo (MAS) de Evo. Ela foi acusada de “sedição, terrorismo e conspiração”. Foram detidos também os ex-ministros golpistas  Álvaro Coímbra, da Justiça, e Álvaro Rodrigo Guzmán, da Energia, As autoridades bolivianas também emitiram mandados de prisão contra os ex-ministros interinos da Presidência, Yerko Núñez; de Governo (Interior), Arturo Murillo; e de Defesa, Luis Fernando López. Áñez esteve no poder até o final de 2020, quando Luis Arce venceu as eleições.
Áñez garantiu que recorrerá a organismos internacionais — Foto: Reuters
Áñez e sua prisão na Bolívia – foto da Reuters

O Contragolpe na Venezuela

 

Depois de 48 horas confinado, Hugo Chávez foi liberado por militares que o apoiavam e graças à pressão popular – Getty Images

 

No dia 11 de abril de 2022, completaram 20 anos da primeira tentativa de golpe de Estado conta o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez Frías. O ex-comandante foi sequestrado por militares desertores, que colocaram em prática um plano arquitetado por setores tradicionais das classes mais abastadas do país, vinculadas à indústria privada do petróleo, e à Casa Branca.

Pedro Carmona, empresário, presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Produção (Fedecamaras) apoiado pelos maiores partidos conversadores: Copei e Ação Democrática, autoproclamou-se presidente. A Assembleia Nacional foi destituída e o comandante das Forças Armadas, Efraín Vásquez ordenou suas tropas a levar Chávez para o Fuerte Tiuna, maior base da Academia Militar venezuelana.

Rapidamente, os governos dos Estados Unidos, Espanha, Equador, Colômbia e Nicarágua reconheceram a junta golpista cívico-militar.

Apresentado como algo “novo”, apenas dois ministros do “governo de transição” eram militantes ativos de partidos políticos. O suposto ministro das Finanças, Leopoldo Martínez, Primeiro Justiça, e o suposto chanceler José Rodríguez Iturbe, do partido democrata-cristão Copei.

Os jornais noticiavam que Chávez havia renunciado, no entanto nunca foram divulgados um pedido de renúncia oficial ou mesmo uma declaração nos meios de comunicação. Menos de 48 horas depois da desaparição de Chávez, seu gabinete de ministros, familiares e o vice-presidente constitucional Diosdado Cabello denunciavam o golpe.

Enquanto as grandes cadeias televisivas, como a Rádio Caracas TV (RCTV) – maior consórcio de rádio e televisão da época – optavam por completar sua programação com desenhos animados e interrompiam as transmissões com autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário fiéis a Chávez, milhares de venezuelanos cercaram o Palácio Presidencial de Miraflores para exigir que o presidente aparecesse.

Um documentário maravilhoso da TV sueca, denominado A revolução não será televisionada, mostra cenas reais do golpe da direita venezuelana e o contragolpe realizado pelos milhares de venezuelanos, comm o cerco ao Palácio Miraflores,  exigindo a libertação de Hugo Chavez. Algo inacreditável na América Latina. Boa parte do exército venezuelano se manteve fiel a Chavez.

Ou seja, os golpes fracassam quando não possuem o apoio popular. Nos dois casos, o boliviano e o venezuelano, os golpistas acabaram na cadeia. Afinal, não é tão fácil assim dar um golpe de Estado.

 

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