Por Walter Falceta
Fiz essa foto no Chile, ainda durante o governo do genocida Augusto Pinochet, em dias de fúria nas ruas de Santiago.
Se não me engano, essa aí é a Paseo Ahumada, no centro histórico da capital, onde se travavam duros embates entre a população, especialmente jovens, e as forças fascistas dos carabineros.
Quando se distribuíam as silhuetas das vítimas da ditadura, logo aparecia um fardado para reprimir os parentes dos desaparecidos. A placa era imediatamente destroçada, como se pode ver na quina da parede.
Minutos depois, no entanto, vinha outra turma e substituía os recortes destruídos. Era um jogo de gato e rato sem fim.
Nessa época, o atual presidente do Chile, o companheiro Gabriel Boric Font, era apenas um bebê, com dois anos de idade.
De alguma forma, no entanto, a aguerrida esquerda chilena, com destemido sangue mapuche, foi capaz de fazer a necessária comunicação dissonante e promover a fundamental educação transgeracional.
Em 2019, no início do levante anti-sistema, estavam nas ruas milhares de jovens que nem mesmo tinham nascido nessa época.
Mas não se calavam… Porque alguém lhes contara, por exemplo, dos companheiros Exequiel Ponce e Alfredo Gajardo, resistentes em isopor preto na longa travessia do tempo.
Porque história a gente conta nos detalhes, com ânimo, entusiasmo e fascinação. Quando essa narração é mal feita, produz-se algo como o destrambelhado 2013 brasileiro. Quando é bem feita, acende-se a luz da esperança e a democracia agradece.
Walter Falceta é jornalista e um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)