Por Ricardo Soares
Hoje, logo cedo, uma mensagem virtual do escritor Joel Nunes me dá conta que “nossa” La Denser se foi. Ou seja, a literatura brasileira perde mais uma combatente no sentido da busca dos verdadeiros sentidos que movem os escritores : som e fúria, sustentáveis pesadelos do ser, confrontos e debates, qualidade acima de estratégias de mercado,fuga das panelinhas ligeiras e duradouras.
Com a Márcia organizei ( 2015 ou 2016 ? ) um evento peculiar no Centro Cultural São Paulo chamado “literatura de confronto” que visava , grosso modo, questionar o ramerame do mercado editorial que é “muita promoção e pouco talento os males da literatura são”.
Márcia não é conhecida das novas gerações, a dela e outras a esqueceram, mas, sem favor, era a maior escritora brasileira viva que jaz morta e deveria entrar no panteão onde tantos falsos brilhantes reluzem . Foi a escritora brasileira preferida do finado Paulo Francis, mas era muito mais do que isso. Seu conto “ O Vampiro da alameda Casabranca”, publicado em 1986, era dos melhores da literatura brazuca, quiçá mundial.
Recolhida e amargurada (até pelo esquecimento ao qual a confinaram) numa pequena pousada da família em Minas, seguia ativa e interessada em política, literatura, talentos. Aguerrida e boca rota vai deixar saudade também pelas prosas divertidas virtuais que fazíamos onde a gente ria de tudo e todos, inclusive de nós mesmos.
Mais de uma vez perguntei à Márcia porque ela não publicava mais. Ela desviava do assunto, mudava a rota da prosa e preferia falar do passado, da nossa convivência com o finado e querido Caio Fernando Abreu e do namoro heavy metal que ela teve com um também finado e querido repórter policial que foi meu amigo.
Apesar de recolhida e esquecida era bom ter a Márcia no cenário. Sim, gosto é subjetivo. O dela considerava o Marcelo Mirisola o atual grande escritor brasileiro. Me tinha em boas graças por minha boca também rota e pelo que fiz (?) no jornalismo cultural e literário. Poucos como o escritor Ademir Assunção e o Joel Nunes estão lembrando sua partida. Mas, à guisa de Artur Bispo do Rosário, o “registro de sua passagem pela terra” deveria ser tratado com a justiça devida. Se é que justiça existe ou existiu algum dia, né querida La Denser? Fica aqui meu carinho e desejo de que sua ida nos traga alguma volta. Do que não sei. Mas desejo isso.
Ps. Antes que a república da lacração diga posto minha foto com a diva apenas e tão somente porque foi nosso último encontro presencial. Não porque considere estar à sua altura. Pô Marcia Denser. Você fará muita falta.
Ricardo Soares é jornalista, escritor, produtor e crítico de arte.