Construir Resistência
Rezende

Funeral da Terceira Via

Por Luiz Eduardo Rezende

Os caciques do MDB, José Sarney, Renan Calheiros e Eunício Oliveira, em nome dos candidatos do partido no nordeste, detonaram a possível candidatura da senadora Simone Tebet a presidente da República, e consequentemente, a viabilidade do sucesso de uma terceira via na eleição presidencial, já que ela, por ter menor rejeição que João Dória aparecia como a mais indicada para ser anunciada como candidata única da aliança MDB, PSDB e União Brasil.
Os candidatos emedebistas a governos estaduais, Senado, Câmara dos deputados e assembleias legislativa no nordeste pressionaram os caciques do partido a tomarem uma posição a favor de uma aliança com o ex-presidente Lula. Dizem que Simone Tebet não tem viabilidade eleitoral, que Dória não empolga nem seu próprio partido e que Eduardo Leite e Luciano Bivar sequer são conhecidos na região.
Não deixam de ter razão. Dória, que agora quer ser chamado de João, iniciou sua campanha com uma visita a Rio das Contas, na Chapada Diamantina, Bahia, terra natal de seus pais. O prefeito contratou uma bandinha e comprou foguetes para funcionários soltarem na chegada do candidato à praça principal, onde seria recebido pelo povo da cidadezinha.
Que decepção. Além dos áulicos acomodados no palanque, apenas duas pessoas esperavam Dória, ou João, na praça. A bandinha tocou assim mesmo, apenas não havia ninguém para aplaudir. Parece que essa troca de nomes resultou num fiasco.
Aliás, João era como Mané Garrincha chamava os laterais que ele fazia de bobo.

PASTORES SECRETOS
Quem não deve não teme, diz o velho ditado. E o presidente Bolsonaro parece acreditar. Tanto que decretou sigilo por cem anos das conversas que teve nos vários encontros com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que intermediavam liberação de verbas para prefeituras em troca de propinas em dinheiro, ouro e até em bíblias.
Numa conversa gravada, o ex-ministro Milton Ribeiro, protegido da primeira-dama Michelle, alerta que, por determinação do presidente Bolsonaro, os pastores Gilmar e Arilton deveriam ter prioridade na indicação de prefeituras  que receberiam verbas do FNDE. Uma recomendação nada republicana, que acabou com o pedido de demissão de Milton Ribeiro, para não passar uma vergonha ainda maior.
Se Bolsonaro nada tem a ver com a corrupção no MEC, se manda apurar responsabilidades e punir culpados quando há denúncias, como gosta de anunciar, qual a razão do presidente querer esconder por cem anos os papos com os dois pastores, nas várias visitas que fizeram ao Palácio do Planalto?
Milton Ribeiro também é pastor e amigo de fé, irmão camarada da primeira-dama. Para defender o ministro, Bolsonaro disse que colocaria não a mão, mas a cara no fogo. Se deu mal. Os mais velhos devem se lembrar bem de uma antiga bronca que os pais davam nos filhos:
Sai daí menino. Quem brinca com fogo, amanhece…

COM A MESMA MOEDA
A repercussão da CPI da Covid mostrou que seria devastadora para as pretensões de reeleição de Bolsonaro uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar corrupção no MEC em plena campanha eleitoral. E isso está muito perto de acontecer, pois o senador Randolfe Rodrigues chegou a conseguir as 27 assinaturas exigidas pelo regimento interno do senado, mas o governo conseguiu que três dos signatários voltassem atrás e retirassem seus nomes.
Randolfe Rodrigues não desistiu e tenta conseguir novos apoios para a abertura da CPI. Nos bastidores, o governo tenta impedir agindo como sempre: oferecendo liberação de emendas e outras vantagens aos parlamentares. Mas como nem assim vem obtendo sucesso, partiu para uma outra ação.
Os bolsonarista estão colhendo assinaturas para instalar uma CPI dos governos petistas. Esperam que com duas comissões funcionando paralelamente as repercussões sejam menores. Como se diz no jargão policial, chumbo trocado não dói. Mas como tudo no governo Bolsonaro é feito atabalhoadamente, esse pedido de CPI está deixando atônitos os conhecedores da política em Brasília.
Nenhuma CPI pode ser instalada sem ter um motivo claro e objetivo a ser abordado. E investigar os governos petistas é muito vago, não atende às exigências do regimento. Uma velha raposa do congresso, ao saber da intenção dos parlamentares bolsonaristas comentou:
“Ué, nunca vi CPI contra governos passados. Essa é nova!”

ROBÓTICA SUPERFATURADA
A empresa de um amigo do presidente da Câmara, Artur Lira, vendeu para o governo federal kits de robótica a um preço 420% maior do que o praticado pelo mercado. É claro que Lira afirmou nada ter a ver com isso, que a empresa participou normalmente da licitação e que nem tomou conhecimento dessa negociação. Quem quiser que acredite.
A irregularidade, para usarmos um termo educado, não ficou só no superfaturamento absurdo. Vai muito além. Os kits de robótica foram pedidos para escolas do interior, principalmente do Nordeste, que não têm água, internet e muito menos computadores. É uma farra com o dinheiro do contribuinte.
Cada vez que surge uma denúncia dessa natureza, o TCU diz que abriu processo e vai apurar. Acontece que as conclusões não são levadas a sério pelos órgãos de investigação do governo, não acontece nada, ninguém é punido, fica o dito pelo não dito até que o assunto seja esquecido ou superado por uma outra denúncia ainda mais grave. E o presidente Bolsonaro, com a cara de pau que lhe é peculiar, continua afirmando que no governo atual não existe corrupção.
Assim como acontecia no tempo dos militares, que ele tanto elogia, Bolsonaro troca o verbo quando diz isso. Corrupção existe, sim, nesse governo; o que não existe é investigação e punição de culpados.

MAIS CONFUSÃO NO RIO
O PT fechou questão. A chapa da aliança com o PSB no Rio, ou seja o palanque de Lula no estado, terá Marcelo Freixo candidato a governador e André Ceciliano ao senado. E como fica Alessandro Molon nessa história? De candidato favorito a derrotar o bolsonarista Romário passou a enjeitado pelo PT e não recebeu uma palavra de apoio de seu colega de PSB, Marcelo Freixo, que só pensa em ter Lula ao seu lado, única forma de ganhar do governador Cláudio Castro, segundo as últimas pesquisas.
Com a esquerda dividida, a chapa Cláudio Castro e Romário ganha força, principalmente no interior do estado, onde Marcelo Freixo tem pouca penetração e a maioria dos prefeitos apoia Castro. Mas nem tudo são flores para o governador nessa eleição. Ele acaba de ganhar um concorrente de peso no eleitorado principalmente da região dos lagos e do norte fluminense.
O ex-governador Anthony Garotinho se lançou candidato ao governo. Dificilmente conseguirá se eleger, mas seu apoio num seguindo turno terá um peso considerável. E ainda contribuirá para a reeleição da filha Clarissa para deputada federal. Garotinho é um candidato agressivo. Se for mesmo candidato, vai atacar frontalmente os adversários, tornando a campanha no Rio uma verdadeira guerra.

VAI UM VIAGRA AÍ?
Os velhinhos reformados da Marinha, do Exército e da Aeronáutica estão felizes da vida. O governo acaba de comprar, superfaturado é claro, um grande pacote de comprimidos de Viagra e, para os que nem com o comprimidinho azul funcionam, próteses penianas. Afinal de contas, quem sempre esteve pronto para ir à guerra não pode depois de certa idade perder a masculinidade.
Mas para usar o Viagra ou a prótese é preciso ter uma companheira, ou companheiro, é claro, e para isso os oficiais devem estar bonitos, impecáveis. O governo também cuidou disso. Comprou botox e remédio contra a calvície. Militar que se preza não acredita que é dos carecas que elas, ou eles, gostam mais.
As explicações para a compra do Viagra são risíveis. E sobre as próteses o governo preferiu nem falar nada.  Mas tem gente que defende a aquisição desse “kit sexo”. O vice-presidente, general Mourão, muito irritado, perguntou aos jornalistas: “Será que eu não posso tomar o meu Viagra?”
Claro que pode general. Mas compre com o próprio dinheiro, não com o nosso. Afinal de contas, o prazer é seu!!! #jornalismo #política

FOTOS

Simone Tebet: candidatura está sendo rifada por caciques do MDB

Bolsonaro e os cem anos de sigilo


Randolfe Rodrigues: luta para conseguir instalar CPI do MEC


Compra de Viagra para militares gera memes na internet

 

Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem pelo Jornal do Brasil, O Dia e O Globo.

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