Por Alvaro Costa e Silva –
Folha de S.Paulo
Secretário da Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite é tão poderoso quanto o governador Tarcísio de Freitas. Ou até mais. Tarcísio se vê obrigado, de vez em quando, a vestir o disfarce de moderado para agradar setores do mercado financeiro que o querem como herdeiro de Bolsonaro. Derrite trocou a farda pelo terno, mas segue agindo como se estivesse na Rota, da qual foi afastado por excesso de mortes.
Eleito deputado federal em 2018, reeleito em 2022, ele personifica a politização dos quartéis. Fenômeno que, segundo um estudo do cientista político Lucas Novaes, começa a dar os primeiros frutos podres: aumento no número de homicídios nos municípios que elegeram policiais militares como vereadores.
Assim como Bolsonaro dizia que o Exército era dele —o que se provou falso ou meia-verdade no momento do golpe—, Derrite atua como senhor da polícia. Montou um batalhão particular com 241 assessores fardados, efetivo maior que 91% das cidades paulistas. Abriu guerra na cúpula da Polícia Militar, afastando coronéis favoráveis ao programa de câmeras corporais. Acumula salários nos conselhos do Metrô e da Cetesb e, ao relatar o projeto contra a saidinha de presos, voltou a ser deputado.
Transformou a Polícia Militar de São Paulo na mais sangrenta do país. As operações aboliram o eufemismo “fatos isolados”. Tudo parece proposital e feito em larga escala, pois se trata da campanha de Tarcísio. Além do aceno à direita bolsonarista na segurança pública, o governador investe nas privatizações e se aproxima das igrejas evangélicas.
Um figurino perfeito se não existisse na estratégia um risco, uma suspeita. Do jeito que vão as coisas, Derrite pode muito bem achar (ou Bolsonaro decidir) que ele próprio é o melhor candidato à Presidência, o outsider que encarna o verdadeiro Bukele à brasileira. Não seria a primeira vez que a criatura passa a perna no criador.