Por Moisés Mendes em seu blog
Espalha-se pela internet uma frase com letras graúdas, em fundo preto, que diz o seguinte: “Elon Musk is the new véio da Havan”.
Será mesmo? Será que o fascistão que ataca Alexandre de Moraes pode ser depreciado e comparado ao autoproclamado véio da Havan, que era um ativista de extrema direita tão agressivo, mas anda quieto há muito tempo?
Os dois são extremistas de direita, defendem a total liberdade de expressão, são fãs da cloroquina, já se cumprimentaram no Brasil por mútua admiração e vendem produtos fabricados na China.
Luciano Hang apresenta-se em vídeos assim mesmo, como véio da Havan, e vende panelas, tapetes e penicos chineses. E Musk usa componentes de peças chinesas
em seus carros. Os dois são bilionários e patriotas.
Vamos ver então a história da liberdade de expressão. Há relatos de todo tipo na internet, de jornalistas profissionais e não de palpiteiros, sobre a perseguição de Musk a críticos das suas empresas e das suas posições extremistas.
Jamil Chade conta no UOL que o empresário recorreu à Justiça americana várias vezes para tentar silenciar quem criticava seus métodos de censura que impedem acesso a dados do X. O sujeito perdeu todas.
No Brasil, o véio da Havan vence quase todas. Até contra Lula. Na pandemia, defendia o tratamento com cloroquina e ao mesmo tempo tentava comprar vacinas com um pool de empresários.
Quem o criticou por isso e por outras atitudes suspeitas (e como ativista de extrema direita assumido e juramentado) foi processado. Eu sou um deles.
Enfrento quatro processos do ex-amigo de Bolsonaro, três por textos que publiquei e um por comentários que fiz na TV DCM sobre o depoimento do indivíduo na CPI da Covid. Eu e Kiko Nogueira fomos processados.
Venci dois processos, perdi outro e o último, dos comentários na TV DCM, continua correndo. Venci em São Paulo e Porto Alegre e perdi em Brusque, porque em Brusque ele vence todas, segundo o UOL. Por quê? Porque lá ele tem muita sorte.
Por que o véio me processa pelas opiniões que eu expresso? Porque essa conversa de liberdade de expressão é pra boiada bolsonarista ficar acordada.
Liberdade de expressão é para quem tem dinheiro para bancar ações na Justiça. O véio tem mais de cem ações contra jornalistas. Com alguns, da mídia com poder, ele já fez acordos.
No processo em que fui derrotado, um juiz entendeu que eu havia passado dos limites e deveria ser punido por ter afirmado que, se derrubassem uma daquelas réplicas grotescas da estátua da liberdade, eu não ajudaria a levantar.
Alguém imagina que eu possa ajudar a levantar uma estátua do véio da Havan? O juiz entendeu que eu estava atentando contra a estátua de plástico.
Perdi para a estátua injuriada do véio, num caso que não é único. Um sujeito que mijou numa estátua também foi condenado, em Santa Catarina, claro.
As estátuas medonhas do véio da Havan têm mais direito à liberdade do que os jornalistas. E assim esses sujeitos vão levando esse vidão de ricos paladinos das liberdades, com o suporte do Judiciário paroquial que funciona como extensão dos seus interesses.
O processo que perdi, em Brusque, está agora em recurso em segunda instância. Se eu perder de novo, tentarei a última instância, no STJ ou no STF.
Mas preciso convencer um dos altos tribunais do país de que, com meio século de jornalismo, mereço que meu caso seja examinado.
Os altos tribunais geralmente recebem com carinho e afeto os casos de poderosos, mas nem sempre de jornalistas cercados pelo assédio judicial do poder econômico.
Sempre lembrando que o véio da Havan está no relatório da CPI da Covid como espalhador de fake news. A CPI pediu seu indiciamento por incitação ao crime. Até hoje não há nenhuma manifestação do Ministério Público.
Nesse ponto, eles têm coisas em comum. O X de Musk é considerado pela Comissão Europeia como o maior disseminador de fake news e desinformação.
Essa é a realidade das liberdades, suas farsas e seus farsantes. O fascista que ataca Moraes não ataca nem chineses nem seus amigos da Arábia Saudita, porque seus negócios não podem ser prejudicados. E por temer as crueldades dos sauditas.
Mas desafia o sistema de Justiça brasileiro para tentar se fortalecer aqui, impor o poder e as mentiras das big techs e livrar Bolsonaro e seu entorno da cadeia.
Mas Musk seria um novo véio da Havan, o periquito vestido de verde, segundo Alexandre de Moraes? A comparação desqualifica o facínora sul-africano. Um é um gângster mundial, o outro é um extremista provinciano que não deu certo.
Eles até podem ser parecidos em suas ideias extremistas, mas têm uma diferença elementar. Musk pode dizer o que bem entende e dificilmente será preso, mesmo que agora seja investigado no Brasil.
O véio enfrenta processos com coisa feia, quase tudo nas mãos de Alexandre de Moraes, e um dia poderá, finalmente, pegar cadeia. Se os manés pegaram, um manezão não pode pegar? Os manezões vão escapar sempre?
Moisés Mendes é jornalista no Sul, escreve para vários veículos e edita o próprio blog