Boulos era uma aposta de risco de Lula

Por Simão Zygband

Por mais que se tenha tentado, lutado, é necessário reconhecer que deu a lógica na eleição de São Paulo.

Guilherme Boulos foi exemplar, guerreiro, dedicado, mas todo seu esforço somente evidenciou a grandeza de uma jovem liderança de esquerda.

Ele não fugiu da raia.

Mas Boulos era uma aposta de risco.

Se viabilizou diante da falta de renovação nos quadros do principal partido de esquerda, o PT.

Era a única opção de Lula, que apostou alto para pagar a fidelidade de Boulos na sua eleição.

Zebra seria se Boulos tivesse vencido.

Só deu uma pequena esperança por que Ricardo Nunes foi um péssimo prefeito e também candidato.

Mas, se tivesse que apostar dinheiro no ganhador, certamente teria sido no Nunes.

Não vou ficar jogando pedra em ninguém pela derrota. Ela era previsível.

O trabalho político deveria ter sido mais elaborado e o de marketing não conseguiu falar com o eleitor pobre, tradicional trunfo do PT.

É notória a decadência do capitalismo e suas mazelas.

E as suas trágicas consequências.

Praticamente não existe mais mercado de trabalho formal.

O pobre, que nunca gostou de ser considerado assim, não se reconhece como trabalhador.

Ele se julga um empreendedor. Absorveu conceitos disseminados pelos conservadores. Quer prosperar. Muito justo.

O motorista de Uber e os entregadores de Ifood não se julgam e não sabem que são explorados.

Fale para eles que são praticamente um “escravo moderno”, que trabalham mais de 12 horas para ganhar o sustento mínimo.

Eles vão te odiar. Dirão que você é um petralha, um esquerdopata.

Além disso, são manipulados pelas ideias de prosperidade decantadas aos quatro ventos pelos pastores evangélicos.

Acho que um dos símbolos desta campanha foi a sabatina de Pablo Marçal com o Boulos.

Uma pergunta de Marçal ficou parada no ar:

“O que você acha da prosperidade. Você não acha que o povo tem que prosperar?”

Nesta o Boulos se embananou.

Como explicar que se quer a prosperidade para todos e não apenas para espertalhões como Pablo Marçal?

A esquerda precisa se repensar.

E trabalhar com um dado diferente de realidade.

De toda forma, obrigado Boulos, por nos fazer em alguns momentos sonhar.

Mas sonhar um sonho ainda impossível.

Simão Zygband é jornalista, editor do site Construir Resistência e produtor de campanhas eleitorais, algumas vitoriosas

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Respostas de 2

  1. Pela ansiedade cultural talvez destes tempos sob a qual muitas vezes nos rebaixamos sem resistencia suficiente para nos repensar e lembrarmos de nos perguntar a todo momento (pois sozinhos não somos e nunca seríamos) – como mantra, além de lema – “de onde viemos e o que nos tornarmos?” (a que esfera da existência pertencemos ou fomos abduzidos), para então retomarmos o rumo para onde iríamos (será que poderíamos declinar dele ou ele estaria este rumo nos levando por si só sem sabermos?)…
    … de tanta ansiedade e medo de fracasso (aquele que nos salva das glórias que nunca nos cabe a apenas um) , e quase sempre voltados que somos para nossa estória sem lembrar que a vivemos dentro da eternamente mal-escrita história da humanidade à qual inevitavelmente pertencemos, estamos assim agora, como se muitos de nós negássemos ou evitássemos a ver no lusco-fusco que fazíamos nos próprios ou pintarmos em veladura o que não suportamos no mundo que aprendemos a ver como concreto (qual o que, nada mais do que ilusório pode ser!)
    Diante de estranha realidade vivemos e, sem declinar, de próxima vez (mesmo diante de apostas, que sempre virão) , não podemos vacilar e desde o início , e não de última hora, enfrentar juntos uma alteridade dinamica que toma e rouba a totalidade que pensamos alcançar em nos para poder gozar de fagulhas de esperanças que a ideia Boulos , e certamente ele mesmo, no centro de muitos de nós que ele ajudou a não Implodir, nos reforçarmos em nossas pequenas fraquezas para combater a maior delas – da próxima vez, esperemos.

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