Construir Resistência
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Assim elas comemoram a vitória

Da Casa do Povo

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Em referência à publicação que anunciava a criação da Casa do Povo no Bom Retiro, em 1946, um texto escrito por seus fundadores diz o seguinte: “Assim eles comemoraram a vitória”. A frase era um convite para a construção do espaço como um monumento vivo à vitória contra o nazi-fascismo.

Em 2017, a convite da Casa do Povo, a artista Yael Bartana criou o neon que ilumina a fachada do prédio e que diz: “Assim elas comemoram a vitória”. Mover a frase para o feminino e para o presente foi uma maneira de resgatar a presença de inúmeras mulheres que contribuíram para a construção da instituição, mas que não estão devidamente visibilizadas na narrativa oficial, da mesma forma que os homens presentes em tantos documentos e pesquisas.

Quem são as mulheres que fazem parte da história da Casa do Povo?

Trazer o protagonismo feminino para a cena é uma tarefa central nas práticas dos acervos da Casa do Povo. No último ano, foi lançada uma chamada aberta para pesquisadores que tivessem propostas para mergulhar nas histórias de mulheres a partir de documentos e coleções. O resultado foi uma pesquisa conduzida por Emily Kimura, que em breve estará disponível para consulta no banco de dados online.

Neste Dia Internacional das Mulheres, aproveitamos para apresentar o pontapé inicial da pesquisa em andamento e homenagear algumas das mulheres que ajudaram a pavimentar a atuação da Casa até o presente.

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Segundo Emily Kimura, o projeto Mulheres no Acervo “foi orientado pela necessidade de responsabilização diante da falta de registro e apagamentos no acervo. O trabalho partiu da seguinte pergunta: é possível que os espaços de memória, preservando seus arquivos, se posicionem politicamente para uma reparação histórica a partir de uma documentação mais ética e justa?”

Emily estudou os registros documentais em três dimensões – linguagem, conteúdo e estrutura – e desenvolveu estratégias para evidenciar as mulheres presentes. Na prática, isso resultou na criação de fichas de pesquisa e palavras-chave que passarão a concentrar esses registros na busca do banco de dados, facilitando assim pesquisas futuras.

Para iniciar o trabalho, Emily escolheu histórias de mulheres que tiveram importância fundamental na história da Casa e construiu fichas com suas biografias. Segundo elu, “o principal desafio foi sintetizar seus feitos, que vão muito além da Casa do Povo”.

Um ponto interessante é perceber como muitas destas mulheres estiveram envolvidas em trabalhos de cuidado ou de ajuda mútua. É o caso de iniciativas vinculadas à instituição, como a Associação Feminina Israelita Brasileira (AFIB) que organizava a Colônia de Férias Kinderland, e os eventos do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem.

MULHERES NOS ACERVOS DA CASA DO POVO

ELISA KAUFFMAN ABRAMOVICH
(1919 – 1963)

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Tornou-se a primeira mulher eleita para a Câmara Municipal de São Paulo, em 1947. Por fazer parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB), seu mandato foi cassado antes de assumir o cargo. Elisa foi uma educadora memorável, participando ativamente da criação da Escola Scholem Aleichem, da qual foi diretora entre 1958 e 1962. Teve papéis de destaque no Clube I. L Peretz, na Organização Feminina Israelita de Assistência Social (OFIDAS) e na Associação Feminista Israelita Brasileira (AFIB).

TATIANA BELINKY
(1919 – 2013)

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Atuou como jornalista, escritora, dramaturga, adaptadora e tradutora de russo, alemão, inglês e francês. Trabalhou com produções para o teatro e televisão. Na Casa do Povo, foi responsável por diversas peças encenadas pelos alunos da Escola Scholem Aleichem, além de dramaturga da peça “O Mágico de Oz”, apresentada na inauguração do TAIB pelo elenco infantil do Clubinho I. L Peretz. Teve uma carreira de destaque nos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, e na TV Tupi, onde fez a primeira adaptação televisiva de “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Em 2009, foi eleita para uma das cadeiras da Academia Paulista de Letras pelas suas notáveis contribuições literárias e teatrais.

RAQUEL ZUMBANO ALTMAN
(1938 – 2002)

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Teve uma vida comprometida com o universo da infância e da promoção dos direitos das crianças. Raquel foi uma figura proeminente na AFIB e fez parte da Comissão de organização do Kinderland entre 1980 e 1985. Foi uma das pioneiras na criação de brinquedotecas no Brasil, construindo iniciativas como a do GRAAC, Hospital das Clínicas – Instituto da Criança, e do Instituto Boldrini, além de pesquisadora importante sobre brinquedos e o brincar. Também contribuiu para a fundação da ABRINQ, da qual foi Presidente do Conselho Consultivo e membro do Conselho de Administração.

DINA LIDA KINOSHITA
(1947)

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Nascida em um campo de refugiados em Munique, foi militante ativa do PCB e de organizações voltadas para o bem comum. Entre 1982 e 1985, foi diretora do Instituto Cultural Israelita Brasileiro (ICIB), onde organizava um cine-clube propondo conversas pela democracia por meio do cinema. Foi secretária do Conselho de Defesa da Paz (CONDEPAZ), de 1986 a 1990, dedicando-se à busca por soluções pacíficas para conflitos. Sua influência se estendeu internacionalmente, sendo membro permanente do Conselho Mundial da Paz (CMP) de 1986 a 2000.

HUGUETA SENDACZ
(1929)

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Nascida em Lodz, na Polônia, Hugueta teve um papel fundamental na fundação do Instituto Cultural Israelita Brasileiro (ICIB) por meio de iniciativas como teatro, coral e jornal. Sua contribuição foi vital para transformar o instituto em um monumento vivo da herança judaica. Participou ativamente do Coral Scheffer e foi integrante do Grupo Teatral do Instituto Cultural Israelita Brasileiro. Hugueta desempenha múltiplos papéis como pianista, maestrina, tradutora e atriz, e é uma das fundadoras e regente do Coral Tradição, grupo que segue cantando na Casa do Povo todas as semanas.

 

QUEM FEZ A PESQUISA?

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Emily Kimura é artista do corpo, cientista social e gestore de acervo. Possui Bacharelado em Antropologia pela Unicamp, pós-graduação em Museologia, Cultura e Educação pela PUC-SP e está cursando mestrado em Museologia pela USP. Pesquisa práticas documentais diversas como uma forma de questionar o modo dominante na construção de acervos e de possibilitar a navegação em diferentes mundos.

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Simão Zygband é jornalista, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas. Fez campanha eleitorais televisivas, impressas e virtuais, a maioria vitoriosas. Estudou no Colégio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem de São Paulo.

 

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