Por Simão Zygband
Arte: Rede Brasil Atual
Todos os dias, tenho certeza, milhões de brasileiros acordam para viver um pesadelo. Certamente preferiam continuar dormindo. E talvez sonhar o sonho dos justos.
Sou jornalista, vi muitas coisas na minha vida que deveriam ter criado um calo em minha alma. Vivi, muitas vezes no mesmo dia, situações que iam da extrema pobreza a mais luxuosa riqueza.
De manhã percorria favelas onde o esgoto corria farto pelas vielas e à noite, no mesmo dia, ia cobrir uma confraternização de gente graúda, sempre regada a bons vinhos, whisky e entradas com camarões. Assim era a minha vida de repórter.
Fiz reportagem sobre frios assassinos ou sobre uma ilustre personalidade, geralmente amigas do dono do jornal. Também está marcado em mim o fato de ser filho de um sobrevivente do nazismo e ter convivido com meu pai, um homem reservado, de sorriso franco e que não gostava de falar sobre o fato de sua família praticamente ter sido dizimada pelo Holocausto. O que salvava um pouco é que minha mãe, mesmo sendo judia, era discípula de Alan Kardec e de seus fundamentos do espiritismo.
Esta semana vou completar 62 anos. Apesar de todo este acúmulo, não me lembro ter vivido momentos tão angustiantes e complexos como o que estamos vivendo sob o governo da extrema direita.
O presidente de plantão, um soldado raso que chegou a capitão reformado do Exército, conseguiu com sua verborragia estúpida se eleger deputado e, finalmente, tornou-se o principal mandatário do país. Notabilizou-se em cima de um discurso de ódio, atacando o principal partido de esquerda do Brasil, o PT, dizendo que iria “fuzilar a petralhada” e desrespeitando descaradamente as mulheres, os homossexuais, os negros. Bolsonaro é racista, misógino e homofóbico. Enfim é a síntese do politicamente incorreto, de tudo que uma pessoa não deve ser publicamente ( e nem na intimidade).
E não é que esta fórmula deu certo? Encontrou eco em uma sociedade adoecida, intolerante, infeliz, que se sentiu representada por um apologista da tortura, uma pessoa que tecia elogios ao mais cruel chefe do aparelho de repressão do governo ditatorial militar, o coronel Brilhante Ustra, um sádico que utilizava ratos para adentrarem a vagina das presas políticas e delas conseguir alguma confissão.
Hoje assistimos com uma certa passividade, possivelmente atônitos, uma cruel realidade, em parte criada pelo ambiente de Bolsonaro e seus seguidores. Esta sua forma estúpida de ser construiu monstros como o tal vereador Dr. Jaiminho e sua ex-esposa, Monique Medeiros, que são acusados pela morte do menino Henry Borel, de 4 anos, filho dela.
O tal Dr. Jaiminho, vejam vocês, é um vereador eleito como defensor da família, contra a ideologia de gênero e a favor da Escola sem Partido. É destes rasteiros apoiadores do sanguinário Jair Bolsonaro. É mais ou menos da mesma laia que a deputada federal homicida, Flordelis dos Santos de Souza (PSD/RJ), acusada pelo assassinato do marido, Anderson do Carmo. Todos falam em nome de Deus.
Também vemos um grupo de empresários com Jair Bolsonaro, como se o país vivesse a calmaria dos seus dias e que sobre os ombros do tal presidente da República não pesassem cerca de 350 mil mortes, fruto de uma conduta desastrada de governo no combate à pandemia. Estiveram com o capitão, para lhe dar algum tipo de apoio e tapinhas nas costas, milionários que ajudaram junto com ele a construir esta crise. Foram beneficiários de projetos que surrupiaram direitos dos trabalhadores e de todos os brasileiros.
Bolsonaro, com notórias ligações com as milícias cariocas, parece pouco se importar com a situação de calamidade que levou o país, junto com os seus amigos empresários.
O Brasil vive o pesadelo do genocídio, fruto da conduta sádica de Bolsonaro, que se recusou a comprar vacinas que poderiam ter salvo milhares de vidas, por tratar com desprezo as famílias enlutadas e os seus entes queridos, por dizer se tratar de uma “gripezinha” uma doença que já ceifava milhões de vidas mundo afora. Isso sem contar a calamitosa política econômica sua e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
O pesadelo brasileiro tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro, um genocida que se elegeu com a frase “O Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”.
Deus agora que nos livre dele.