Construir Resistência
protejam-seus-nossos-filhos

Protejam seus (nossos) filhos

Gisele Lemos

 

Nossa sociedade se esforça para educar mulheres para serem bonecas de luxo. Bonecas que não falam, não pensam. Verdadeiras Barbies. Brinquedos vendidos para homens poderosos, influenciadores e muitas vezes sociopatas de primeira qualidade. Muitas de nós nos safamos desta cruel sentença, porém foi diferente para a mãe do menino Henry. Ela recebeu o título de mulher Barbie perfeita: até agora em silêncio – conivente com o assassino para salvar-se de perder suas grandes conquistas: o status. O dinheiro.

Moradora de bairro emergente, harmoniosamente na moda – acessórios combinados ao tom de pele, perfeição! Ela atingiu o topo, foi comprada como boneca e assim pôde circular pela desmoralizada alta sociedade carioca. Nós não sabemos, mas ela sabia muito bem quantas queriam o lugar dela. Todas buscando, por aí, fisgar homens ditos poderosos, por meio de suas investidas em cirurgias plásticas, academias, botox. Trata-se sempre de manter as aparências para expor-se em uma vitrine seletiva que visa vender-se para gente influente, de dinheiro.

A vida de luxo em bares badalados, restaurantes caros, brindar em barcos e lanchas, assistir a vista da Baía pela janela de helicópteros, fazer um vôo para São Paulo… Tudo isso combinando perfeitamente com os sorrisos branqueados e harmonizados com botox e bichectomia. Se vale a pena?! Parece esperança de vida para uma infinidade de mulheres, que anulam suas vozes de denúncia ou qualquer sentimento de medo diante da conduta suspeita de seus parceiros. Homens que muitas vezes não se dão ao trabalho de disfarçar suas posturas violentas e desrespeitosas para com mulheres e crianças ou pessoas em posição social desprestigiadas. Em silêncio parece tudo perfeito como no Amor. Mas quem precisa do amor de fato, acompanhado de imprevisibilidades, se viver de aparências tem lá uma estética mais simpática para os tempos atuais? Não há quem diferencie um falso amor de um real através de uma fotografia de Instagram! Vida que segue…

A mãe em questão conquistou coisas e, por elas, vendeu a sua voz, a sua capacidade de pensar e indignar-se pela condição de seu filho. Tornou-se a boneca perfeita nas mãos do homem poderoso. Ganhou o apartamento e o porta retrato para expor a self do casal na sala de estar – as aparências de amor! Mas o amor, amor mesmo, estava lá angustiado e pedindo socorro. Porque o Amor tinha muitas vezes cheiro de xixi na cama e som alto de choro de criança. A vida de Barbie conquistada nunca combinaria com um filho de quatro anos precisando de um banho, cheio de medos a respeito do que sentia, com sede e fome às quatro da manhã.

Um filho de quatro anos muitas vezes não fica bem em foto romântica de casal recém formado. Um filho cansa e causa olheiras de preocupação. Algumas vezes chora e, sem saber reclamar os seus direitos, faz pirraça e rouba tempo. Precisa ser o centro e precisa de um centro, de um herói, de proteção, de mão, de colo e abraço. Um filho, e de outro homem: visita agendada de pai, manipulações, mágoas, ciúmes e saudades… muita coisa para um menino de quatro anos elaborar! Uma criança que só precisava ser o centro, de um centro, de um herói, de proteção, de mão, de colo e abraço. De fato um filho de quatro anos destoa da perfeita ilusão do que seria uma vida de luxo de um jovem casal recém formado. O filho não combinava mais com sua mãe e nem com o seu lar artificial. Logo, sofria de uma angústia indecifrável para sua idade. Só se tem quatro anos uma vez! Um filho é um filho!

O filho, o amor. Não venceu a cobiça. Ela, mãe e mulher, querendo suportar tudo por dinheiro, por uma vida na alta sociedade carioca – de podres homens corruptos e assassinos.

Diga-me com quem andas… perdeu a capacidade de pensar! Tornou-se um deles, num piscar de olhos!

Ele, um menino gritando por socorro do seu jeito de criança. Ela, uma mãe, que minimizou o problema de seu filho, negligenciando o seu pedido de socorro. Apagando provas. Achando-se grande demais frente ao problema. Achando-se invencível. Fez merda, não pensou. Realmente ganhou o título de mulher-boneca. Perdeu o momento de salvá-lo. Perdeu o momento de salvar a si mesma… agora será julgada criminalmente e aprenderá que uma mulher não é julgada apenas criminalmente. Uma mulher é sentenciada à morte, ainda em vida. E, uma mulher que, para se salvar, omite o assassinato de seu próprio filho será justiçada também por sua própria consciência. Será julgada pelo céu, pela terra e pelo inferno.

Quero saber como viverá o assassino psicopata da alta sociedade carioca…
Misericórdia tenho da mãe, sim.

Misericórdia tenho da criança, que se foi relutante, apavorada… em uma tragédia anunciada.

Torço pela vida de todos que tiveram, e ainda terão, coragem de se expor neste caso.

Cuidemos de nossas crianças, pelo amor de Deus! Cuidem do amor que ainda há no mundo! Cuidem das crianças!

Mulheres, protejam-se! Protejam seus filhos!

 

Gisele Lemos é professora de educação infantil e diretora escolar na cidade do Rio de Janeiro. 

Compartilhar:

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email

Matérias Relacionadas

Rolar para cima