Por Luiz Hespanha
Cada vez que morre um colunista que era cineasta, que virou escritor, que sonhou ser músico, que acreditou ser ator; que se enxerga poeta, dramaturgo, roteirista, crítico de arte, filósofo, bússola, GPS, farol ou cometa. São Pedro chama Umberto Eco e ordena: vai lá receber o sujeito que eu não tenho mais saco. Entediado, Eco finge obedecer, sai e passa a bola para Gore Vidal. Impaciente, Vidal pega Paulo Francis pelo braço e solta o berro: vai lá você, esse aí é de menos pra mim, agora é sua vez.
Será que os russos colheram material genético de Bolsonaro? Se o fizeram, deve ser para algum tipo de controle e isolamento, não para disseminação. Quem livrou o mundo do nazismo, não ia fazer isso com o planeta.
A foto de Bolsonaro e Carluxo em Moscou, de autoria do Alan Santos, define o apreço que eles têm pelos militares. Na foto, Zero Zero e Zero 03 figuram soberanos à mesa. Lá atrás, cabisbaixo, além da bandeirinha verde amarela do escanteio, está o general Heleno, o augusto estratega de Cité Soléil e gênio da inteligência militar da Bozolândia. A palavra humilhação tem quantos sinônimos mesmo?
E por falar em apreço e abandono, Mário Frias já percebeu que Bolsonaro o deixará a ver navios. Com o trânsito que tem no mundo artístico dos EUA, Frias está sereno. Denzel Washington, Tom Hamks, Morgan Freeman, Di Caprio, De Niro e Anthony Hopkins já lhe tranquilizaram. A performance inesquecível de Frias em Malhação lhe garantiu solidariedade incontestável em Hollywood. Não nos esqueçamos que Regina Duarte recebeu o mesmo apoio de Meryl Streep, Olivia Colman, Sandra Bullock e até da trotskista Vanessa Redgrave.
Pergunta que não para de dar voltas em linha reta Terra Plana afora: onde anda, o que faz, o que diz, o que pensa, o que assina e onde orbita o ministro-astronauta-de-travesseiro Marcos Pontes da Ciência e Tecnologia?
Paulo Guedes continua na sua jornada de gênio incompreendido na economia e na política. Ninguém dá bola para o que ele fala. Seu poder de Posto Ipiranga de Bolsonaro é hoje é a imagem de uma bomba de gasolina solitária quebrada, marcando R$ 10,01 o litro, num cemitério de Fiats 147 e Passats.
A estreia de Fernanda Torres no cenário da geopolítica surpreendeu o planeta. O texto “A vingança de Putin está por trás do livre nazismo do Monark e das convicções do tiozão do pavê bolsonarista do churrasco de domingo” publicado na Folha pode garantir a ela uma cadeira de analista da ONU. Se alguém conseguir traduzir o tratado geopolítico-antropofágico de bolsa, digo de bolso, para o secretário Geral, o português Antonio Guterres, não tenha dúvida: perderemos uma atriz. O mundo vai mudar muito depois que Fernandinha entrar na ONU.
Sérgio Moro disse num encontro com empresários que “vai até o fim”. Moro exercita uma sinceridade virginiana, não a do signo, mas a do estado da Virgínia, sudeste dos EUA. Ele irá mesmo, podem acreditar Neides and Gentes. O lawfare, os intercâmbios com o Departamento de Justiça dos EUA, os vazamentos seletivos e ilegais, o ministério que ganhou de presente de Bolsonaro e o trabalho árduo na Alvares&Marsal são mais que indícios que o “Di Endi” não será em Maxachuxiss, mas num tribunal brasileiro mesmo.
A irreal família real brasileira, os tais Orleans e Bragança, recebem o laudêmio, o chamado “imposto do príncipe”. E aí começa meu delírio: quando lembro da taxa enxergo claramente D. Bertrand, D. Luiz Gastão, D. Luiz Philippe, D. Pedro Luiz e outros dons, todos com enxadas e pás nas mãos, participando das buscas das vítimas da tragédia em Petrópolis, afinal pás e enxadas são ferramentas da nobreza humana.
Dona Luiza Trajano disse ao UOL que é socialista desde os 10 anos. Estudiosos do socialismo mad in Brazil certamente vão se debruçar sobre a questão. Há muito o que se perguntar a Dona Luiza. É uma tarefa difícil. É mais fácil certificar-se que, nessa idade, Roberto Freire já desenvolvia seu projeto de se tornar um ex-comunista.
Luiz Hespanha é jornalista, autor do “Livro das Verdades Inúteis” e de “Breves Memórias da Terra-do-já-teve” (amazon.com.br), compositor de música popular (#CançõesDeAmorDelírioTesãoInquietudeLutaDeClasseEÓcio); e alguém que acha que as Black Fridays não são centelhas revolucionárias que podem incendiar as pradarias tupiniquins. A foto também é do autor do texto e foi tirada no bairro da Bela Vista.