Por Simão Zygband
O filósofo alemão Karl Marx, mesmo vivendo em uma época que não tinha luz, televisão ou internet, já previa que as contradições internas levariam a uma crise aguda do capitalismo.
Na sua mais importante obra, O Capital, com três volumes, foi publicada entre 1867 e 1883, ele já mencionava esta contradição, mesmo com a eletricidade tendo sido descoberta apenas em 1879 por Thomas Edison, quatro anos antes da morte do maior estudioso das relações econômicas capitalistas naqueles anos.
Claro que as informações circulavam em uma velocidade de tartaruga, mas isso não impediu que Marx fizesse uma análise muito profunda de como se desenvolviam as relações de produção e de trabalho naquele período pós revolução industrial.
O que Karl Marx não previu (e isso seria impossível) é quando esta crise aconteceria e com quais características elas viriam. O capitalismo já passou por diversos momentos agudos de dificuldades, mas conseguiu se reinventar aos novos tempos, ganhando outras características, sobretudo com as mudanças aceleradas nas relações de trabalho. Mas sobreviveu, mesmo com as duas guerras mundiais.
Hoje já possuímos a escravidão virtual dos aplicativos, sem que seja necessária a presença direta de um “capitalista” explorador da mais valia (que significa, em linhas gerais, a disparidade entre o salário pago e o valor produzido pelo trabalho).
È só andar pelas ruas de São Paulo, por exemplo, para se constatar que Marx tinha razão e suas previsões podem finalmente acontecer. É bem provável que estejamos vivenciando uma das mais agudas crises que o capitalismo já enfrentou e não se sabe em que momento haverá uma revolta popular contra o sistema opressor, bem analisado pelo filósofo alemão.
O capitalismo, é notório, tenta se refazer agora da gravíssima crise sanitária que se abateu sobre o planeta, com a Covid-19, mas tudo leva a crer que não será tarefa fácil. O sistema produtivo ficou seriamente abalado, o mercado não consegue absorver tanta mão de obra e, mesmo com uma mortalidade gigantesca decorrente da Covid-19, o exército de desempregados, sub-empregados e famélicos é muito maior do que a capacidade de absorção do sistema capitalista. Há uma legião imensa de marginalizados, sobretudo nos países de terceiro mundo.
Como estas mudanças se darão é que não se sabe. Mas que elas estão em pleno curso, não resta a menor dúvida. Por enquanto, as manifestações de revolta explodem no crescimento desordenado da violência urbana e também na ascensão de ideais nazi-fascistas, de intolerância, medo e terror. Já que não se consegue uma solução coletiva, pensam os totalitários, vou salvar primeiro a minha pele e de minha família e o resto que se exploda.
Quem assistiu ao filme Coringa, do diretor Todd Phillips, pode perceber como ele apresenta uma Gotham City completamente arrasada, com personagens como o comediante Arthur Fleck (representado por Joaquin Phoenix) totalmente marginalizado e que só consegue extravasar o seu ódio assassinando algum de seus algozes. Ele acaba se tornando o Coringa e, mesmo assim, consegue ainda uma legião de seguidores.
Este cenário de destruição está nas ruas de São Paulo. Uma cidade maltratada, com imóveis pichados, abandonados e semi-destruídos, com milhares de moradores de ruas habitando as calçadas em moradias improvisadas e precárias, fruto da acentuada crise do capitalismo.
Evidente que no caso brasileiro, a dramaticidade da crise foi acentuada com a ascensão do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, que junto com outros agentes, liquidou com qualquer possibilidade de absorção das massas marginalizadas pelo capitalismo, no estágio que ele se encontra no momento atual.
Só nos resta lutar.
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Texto explendidamente temporal e “capitalizando”. Muito bom.