Profissão docente em pauta

Sonia Castro Lopes

Por Sonia Castro Lopes

Uma das metas do Plano Nacional de Educação em vigor desde 2014 era equiparar até 2020 o salário dos professores aos demais profissionais com semelhante nível de escolaridade, no caso o grau universitário. Não se conseguiu, e o pouco crescimento salarial observado nesse período (cerca de 8%) deve-se ao fato de os demais trabalhadores com nível superior terem registrado variações negativas em seus rendimentos no mesmo período. Pesquisas e especialistas há muito vêm apontando que um professor bem formado e atualizado em sua prática faz a diferença no processo da aprendizagem e no êxito escolar dos estudantes. Mas quem quer ser professor nos dias atuais?

Os cursos de pedagogia e os de licenciaturas que formam professores para atuar na educação básica são os menos prestigiados dentro das universidades. São procurados, em geral, por estudantes egressos de escolas públicas onde a formação tornou-se precária e deficiente. A carreira docente deixou de ser atraente. Dados obtidos no relatório do último PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos promovido pela OCDE – indicam que dos participantes brasileiros que prestaram o exame em 2018 apenas 2% pensavam no magistério como carreira profissional. Isso é muito grave.

É óbvio que o desinteresse passa pela questão salarial, mas deve-se levar em conta também as condições de trabalho, as dificuldades para realizar a formação continuada tão necessária ao aperfeiçoamento da prática docente e a baixa perspectiva de ascensão profissional, já que os planos de carreira propostos pelos empregadores, tanto na rede pública quanto privada, não têm motivado os docentes a um investimento maior na profissão.

Em educação antiguidade é posto e interfere tanto na remuneração quanto na escolha das escolas onde os docentes deverão trabalhar. Quando na rede pública se abrem vagas e novos concursos são realizados, os professores com maior tempo de carreira são beneficiados, pois escolhem escolas em regiões mais bem localizadas, deixando aquelas da periferia ou das comunidades para os mais jovens e inexperientes. Numa mesma escola alunos em turmas de pior desempenho têm mais chances de ter aulas com professores temporários ou novatos que possuem maior dificuldade em cumprir o currículo ou controlar a disciplina.

 

Esta é uma das razões que explicam o desinteresse pela carreira do magistério e para contornar esse problema é conveniente que escolas situadas em áreas de vulnerabilidade tenham projetos pedagógicos alinhados aos interesses da comunidade e boas condições de trabalho para que possam atrair professores mais experientes, cuja atividade poderá servir de inspiração aos mais jovens.

Outro ponto que gostaríamos de ressaltar diz respeito aos modelos de formação que, de um modo geral, encontram-se em crise. Durante muito tempo pensou-se que uma boa formação inicial, ter domínio dos conteúdos a serem ensinados fossem fatores decisivos para a aprendizagem. Trata-se de um mito. Não existe relação mecânica entre esse tipo de saber docente e a aprendizagem. Hoje, a capacitação em serviço – uma das formas de formação continuada – realizada à distância vem sendo muito incentivada, mas o que ocorre, geralmente, é um processo de massificação desses cursos e os resultados estão longe de se apresentarem satisfatórios.

Na verdade, o que acontece é que a formulação de projetos e a implementação de políticas de capacitação docente, em geral, são feitos sem a participação dos professores. Nas reformas educativas eles são habilitados para executarem planos traçados por quem muitas vezes está distante do chão da sala de aula. Outro ponto muito discutido na formação docente refere-se à falta de articulação entre teoria e prática, tanto na formação inicial quanto na formação em serviço.

E em último lugar, mas não menos importante, verifica-se que poucos municípios e estados têm investido num plano de carreira que estimule os docentes a se aperfeiçoar e realizar pesquisas no seu trabalho cotidiano. A recusa em diminuir a carga horária de aulas para os que se dedicam a cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) deixa poucas oportunidades para que esses professores expandam seus horizontes teóricos e apliquem seus conhecimentos em pesquisas que tenham por objeto a reflexão sobre suas próprias práticas. A majoração de salários em consequência das titulações obtidas é quase sempre irrelevante, o que promove o êxodo dos profissionais para a docência em cursos superiores ou para atividades administrativas, privando a educação básica de bons quadros.

 

 

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