Já faz tempo mas não sei exatamente quando e nem como “descobri” o escritor e ensaísta João Silvério Trevisan, dos melhores de nossas letras muito embora tenha muito menos holofotes do que mereceria diante da bagraiada que adora se autopromover, fazer amigos e influenciar pessoas.
Entre os muitos bons livros que publicou há dois que são verdadeiros clássicos em gêneros distintos. No romance “Ana em Veneza”, de enredo elaboradíssimo, ele mescla Júlia, a mãe brasileira do escritor alemão Thomas Mann,a escrava negra Ana, antiga ama de Júlia e o compositor cearense Alberto Nepomuceno que no capítulo inicial é desajeitadamente entrevistado dentro da histórica Confeitaria Colombo no Rio , ricamente detalhada pelo talento de João Silvério.
O autor foi também pioneiro ao tratar temas caros ao universo LGTBQ numa época em que mal se falava no assunto, exatos 35 anos passados e comemorados do seu clássico “Devassos no Paraíso”, um conjunto de pensatas, histórias e ensaios sobre a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. João Silvério também é autor, entre outros, do livro de contos “Troços &Destroços” e dos ensaios contidos em “Seis balas num buraco só, a crise do masculino” além do elogiado e recente romance `”Pai pai”.
Quem ainda não “descobriu” o João Silvério que o faça. O tempo urge nessa época de falsas urgências midiáticas.
Ricardo Soares é jornalista, escritor e crítico literário