Por Luiz Eduardo Rezende
Questionado sobre as centenas de balsas de garimpeiros ilegais que invadiram o rio Madeira, na Amazônia (foto 1), o vice-presidente da república, general Hamilton Mourão, disse que isso acontece há muito tempo e que a Polícia Federal e a Marinha vão lá para evitar que o local se transforme numa nova Serra Pelada. Já deviam ter ido.
O Ibama fez pior. Em nota oficial, o instituto informou que vai mandar uma equipe de fiscalização ao local para identificar as irregularidades. Os dirigentes do Ibama, certamente muito atarefados de tanto trabalho, não assistem televisão, logo não viram as imagens das balsas enfileiradas, muito menos ouviram um garimpeiro dizendo que vão expulsar a tiros quem ousar tirá-los de lá.
Os representantes do governo brasileiro, responsáveis pela preservação do meio ambiente, devem imaginar que a população é boba ou mal informada. Se houvesse fiscalização efetiva, os garimpeiros seriam impedidos de atracar suas balsas para a atividade legal. Mas isso não existe no Brasil. Basta vermos o desmatamento e os incêndios na floresta, sem falar na invasão das terras indígenas.
Num governo sério, a Polícia Federal, a Marinha, o Exército, a Força Nacional ou quem quer que seja já teriam expulsado os garimpeiros ilegais da área invadida. Mas fica um jogo de empurra, uma instituição jogando a responsabilidade para a outra.
Ou será que o pessoal da Marinha está com medo de uns tirinhos dos garimpeiros?
PROIBIÇÃO ABSURDA
Mais uma do Ibama. A Fiocruz, uma das instituições mais sérias do país, foi proibida de enviar cientistas à terra dos índios yanomami (foto 2), invadida por cerca de 20 mil garimpeiros, para verificar o nível de poluição dos rios por mercúrio, que coloca em risco a saúde dos indígenas. Garimpeiro ilegal pode invadir à vontade, cientistas não podem nem chegar perto da reserva.
Até hoje o Ibama não explicou a razão da proibição. Que mal fariam aos yanomami os cientistas que entrariam na reserva para fazer esse trabalho visando preservar os rios e a floresta, fundamentais para a preservação daquele povo?
O garimpo ilegal está matando os índios yanomami, poluindo os rios, desmatando a floresta, levando para lá todo tipo de doença. Tudo sob o olhar passivo das autoridades, que não tomam a menor iniciativa para impedir a invasão das terras que são legalmente dos indígenas.
Uma dúvida fica no ar: o governo é incompetente ou está aliado a esses invasores? Ou as duas respostas estão corretas?
DESEQUILÍBRIO ELEITORAL
A entrada do ex-ministro Sérgio Moro (foto 3) no Podemos, já com um discurso de candidato a presidente, mudou as perspectivas da eleição do ano que vem, que se desenhavam com a polarização entre Lula e Bolsonaro no segundo turno. A terceira via, que parecia morta e enterrada, com Ciro, Dória, Mandetta e outros menos votados patinando sem sair de um dígito, ressurgiu das cinzas com a entrada da Moro.
Tudo indica que as próximas pesquisas já mostrarão Sérgio Moro na frente de Ciro Gomes, atingindo entre 10% e 15% das intenções de votos. Se isso se confirmar, Moro é uma ameaça real principalmente a Bolsonaro, que está estagnado em torno de 20%, com uma rejeição altíssima, enquanto o ex-juiz, que só agora começa a se apresentar como candidato, tem um campo bem maior para crescer e não se sabe até onde chegará.
Lula, líder com folga nas pesquisas, tem uma situação mais tranquila em relação à disputa do segundo turno, embora a um ano da eleição, seja temerária qualquer afirmação. Quem corre mais risco de ficar de fora é Bolsonaro, já que Moro pode pescar votos dos bolsonaristas arrependidos do voto em 2018 e ainda dos que buscam uma alternativa aos dois principais concorrentes.
Um segundo turno entre Lula e Moro não pode ser descartado. Já imaginaram?
TOCOU HORROR
A filiação do general Santos Cruz ao Podemos, com a possibilidade real de ser o vice da chapa de Sérgio Moro, e a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro ligaram o sinal de alerta no Palácio do Planalto, não só pelo medo de Bolsonaro não chegar ao segundo turno. Pelo menos dois militares ligados a ele, que surfavam na onda do bolsonarismo e pretendiam se candidatar a cargos eletivos, estão revendo esses planos.
O general da reserva Augusto Heleno, uma espécie de guru de Bolsonaro, praticamente se lançou candidato ao Senado pelo Distrito Federal. E o ex-ministro Eduardo Pazuello, general da ativa, também manifestou o desejo de ser senador ou governador do Amazonas.
Ao se filiar a um partido do Centrão, caso do PL, Bolsonaro perdeu apoio nas Forças Armadas dos que acreditaram que ele cumpriria a promessa de campanha de combate sem tréguas à corrupção. Quem faz acordo com Valdemar Costa Neto não pode desfraldar a bandeira da honestidade e transparência na política.
Sem a onda bolsonarista os generais Heleno e Pazuello não teriam condições de enfrentar uma campanha majoritária, com a oposição fazendo carga e apontando as mazelas do governo. Pazuello, então, nem se fala. Saiu muito mal do ministério e ainda pegou uma boquinha no Planalto.
Bolsonaro precisava de um partido para concorrer. Mas sua veia autoritária exigia que fosse o mandachuva da legenda. Ninguém aceitou essa condição, nem o PP de Ciro Nogueira. Só Valdemar Costa Neto fez o acordo. E Bolsonaro acreditou nas promessas do velho e malandro político. É claro que oficialmente o PL estará ao lado de Bolsonaro na campanha, até para pegar os R$ 127 milhões do Fundo Eleitoral que terá direito.
Mas duvido que os candidatos no Nordeste levem o nome do presidente aos seus eleitores. Vão mesmo é, por baixo do pano, fazer a campanha de Lula, o preferido dos nordestinos. Cada um vai tratar de sua própria eleição.
Afinal de contas, farinha pouca, meu pirão primeiro!!!
ELA DE NOVO
De quatro em quatro anos, a ex-ministra Marina Silva (foto 4) reaparece. E lá vem ela outra vez, só que não mais como candidata à presidência da república. Cansou de perder. Desta vez vai disputar uma cadeira no Senado ou na Câmara pelo Distrito Federal, onde mora atualmente, e não pelo Acre, onde nasceu e foi criada.
A Rede, partido fundado por Marina, até queria que ela disputasse a presidência. Mas a ex-ministra teve bom senso e recusou. Vai agora tentar ser puxadora de votos e eleger uma bancada significativa para seu partido.
Não há definição ainda sobre quem Marina vai apoiar para presidente. Com certeza não será Bolsonaro.
Pode ser que a Rede adote a candidatura Lula, ou espere uma definição da terceira via para se aliar. Por enquanto não estão tratando disso e sim da definição sobre o que Marina Silva vai disputar.
COMBUSTÍVEL CARO
O ministro Ciro Nogueira (foto 5), presidente do PP, estrela do Centrão, tem um avião particular. Como senador gastava boa parte da verba de gabinete pagando combustível para o jatinho que o levava de um lado para outro com todo conforto. Agora, como ministro, perdeu essa verba.
Acontece que a suplente de Ciro Nogueira no senado é a mãe dele, que não é proprietária de avião. Pois não é que na prestação de contas da senadora aparece um gasto de mais de dois milhões e meio de reais na rubrica combustível de aeronave?
Ou seja, Ciro Nogueira, apesar de muito rico, continua usufruindo das verbas gordas do senado através da mamãe. Lembra até o Agnaldo Timóteo, quando assumiu o mandato de deputado:
– Alô mamãe, olha eu aqui!!
Fotos
Garimpo no Rio Madeira: desafio do crime organizado diante da omissão das autoridades do governo federal (Bruno Kelly/Reuters)
Índios Yanomami: mais uma tribo ameaçada pelos garimpeiros (Marcos Wesley/ ISA)
Sérgio Moro com o provável vice, general Santos Cruz, que foi desprezado por Bolsonaro (Pedro Ladeira/Folha Press)
Marina Silva: candidata ao Senado ou a Câmara dos Deputados (Divulgação)
Ciro Nogueira e a mãe, que o substituiu no senado: combustível da aeronave com dinheiro público (Álbum de família)
Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem por grandes jornais do Rio de Janeiro, como O Globo e O Dia.
Matéria orginalmente publicada no Quarentena News.