O corpo como instrumento político

Por Thiago Labbate 

Abdômen trincado, glúteos avantajados, braços volumosos, pernas tonificadas, será esse o corpo perfeito? Isso é saudável? E onde entra a política? Se o cidadão exerce seus direitos políticos nas eleições, e se ele gosta de ir para a academia buscar por mais saúde e estética, o que uma coisa tem a ver com outra?

A Educação Física tem suas origens no militarismo, os soldados precisavam ser fortes e resistentes para os combates. Foi depois da Segunda Guerra que as academias de musculação começaram a se difundir, surgiu o concurso de fisiculturismo Mister Olympia, em 1965, e a mídia enalteceu corpos como da Marilyn Monroe e Arnold Schwarzenegger. Devido a esses e outros fatores subsequentes, hoje é possível encontrar um estabelecimento fitness em cada esquina. (Tive que recorrer ao Google para escrever o sobrenome do Arnold)

Atualmente, os objetivos dos praticantes são variados, como saúde, estética, condicionamento físico e bem-estar emocional, entretanto a busca pelo corpo ideal é muito forte. Ademais, a cultura militar ainda está presente nos treinos e nos profissionais desta área.

Há um século, a educação física não era vista com o propósito de saúde. Mas nas últimas décadas, depois de tantos estudos, é incontestável os benefícios fisiológicos e comportamentais da prática de exercícios.
Entretanto, tudo tem limites, e para a prática de exercícios não é diferente. O esporte de alto rendimento causa danos articulares, psicológicos e é um sonho inalcançável para a maioria. O treino na academia com altas cargas gera lesões severas, o uso indiscriminado de anabolizantes apresenta inúmeros efeitos colaterais, às vezes a morte, e o impacto na corrida e o tranco nos movimentos de Crossfit pode agravar as articulações.

Junto ao crescimento das academias, veio a internet, as redes sociais e os influenciadores fitness. Este conquistam seus seguidores com sensacionalismo e exageros. Ou é o bombado grosseiro ou a magra enérgica. É o corpo escultural, o treino intenso, o conflito entre os próprios blogueiros, tudo isso gera visualizações e mais adeptos.
Além disso, temos as novelas, filmes americanos, contos de fada, tudo enfatizando o perfil ideal de homem e mulher. O homem alto, forte, branco e heterossexual, que salva a mulher magra, branca, frágil e heterossexual.

Será que a mídia e os influenciadores estão resgatando a eugenia nazista, a cultura greco-romana, uma estética totalitária?
Para responder a isso, é preciso analisar o processo político brasileiro nos últimos 7 anos, com a tomada da direita extremista, com o bolsonarismo, suas características nazifascista, carregadas de preconceitos, maldade e dissociação cognitiva.

É necessário também identificar seus apoiadores, os mesmos que pregam o corpo perfeito, os músculos cada vez maiores, a busca incessante e desmedida por status, e a meritocracia nos treinos, pois basta se esforçar.

Há um correlação muito evidente entre a musculação com origem militar, o marketing de corpos esculturais, os exageros nos treinos, o crescimento de influenciadores bolsonaristas e a extrema direita no Brasil. Muitos cidadãos são alienados com essa manobra físico-política (ou simplesmente se identificam). E quem sofre mais são as mulheres, pois a exigência por estarem no padrão é muito grande, o que faz elas recorrerem a esteróides anabolizantes, cirurgias plásticas e remédios antidepressivos.

É preciso alertar, divulgar e se organizar, para que a saúde, o bem-estar e qualidade de vida não sejam sufocados por esta estética totalitária e prejudicial. Ao mudar uma engrenagem da sociedade, outras se movem junto.

Thiago Labbate é Personal Trainer de posicionamento político de esquerda. Inspirado em Cristo, sem nenhum vínculo religioso. Vegetariano, amante dos animais. Foi atleta profissional de basquete por mais de 10 anos com experiências internacionais e vice-campeão brasileiro.

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