Por Moisés Mendes
Enquanto vê os comparsas tombando e é cercado por todos lados, o chefe dos muambeiros faz sessões diárias de harmonização dentária e transforma a boca num piano.
Tim Maia não imaginaria esse roteiro improvável em que um fascista fracassado cuida da simetria dos dentes e sai mostrando o novo sorriso nas redes sociais às vésperas da prisão inevitável.
Ganhar tempo. É o que resta hoje ao chefe dos muambeiros. E o tempo sempre favorece o criminoso.
Mas em algum momento chegará a hora da harmonização prisional.
Antes de ser preso, Bolsonaro fez harmonização facial e colocou capas em todos os dentes. Deve ser pra poder sorrir quadrado.
Sobre Walter Delgatti
O hacker Walter Delgatti foi condenado por um juiz a 20 anos de cadeia por ter invadido e vazado os arquivos de mensagens de Sergio Moro.
Em 2016, Sergio Moro invadiu ilegalmente uma conversa da presidente da República, vazou a conversa para a Globo, não aconteceu nada, ele foi trabalhar para Bolsonaro e hoje é senador.
Que crime Delgatti cometeu que Moro não tenha cometido ao grampear os advogados de Lula? É a pergunta mais óbvia do ano.
Se o hacker pega 20 anos por invadir as conversas do ex-juiz suspeito, o que pode pegar um ex-juiz suspeito que invade uma conversa da presidente da República?
Sim, sabemos que não vai pegar nada. Mas a pergunta não busca uma resposta. Apenas denuncia mais uma farsa da Justiça brasileira.
Nem é um questionamento sobre a condenação de Delgatti, que na verdade desvendou a estrutura de uma quadrilha, mas sobre a impunidade de Moro.
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)